ESPECIAL: maré de confiança inspira feirantes de Santarém, no Pará; assista

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Santarém, no Baixo Amazonas, é o local do terceiro episódio da série ‘Não paramos: os impactos da Covid-19 na vida de quem não pôde parar’, para conhecer a vida de Carlison Neves, que trabalha já 7 anos na Feira do Pescado, ponto turístico da cidade de Santarém.

Vivendo e trabalhando na terceira cidade paraense com o maior número de infectados, por Covid-19, Carlison conta como superou as dificuldades iniciais de adaptação as normas de segurança e como foi inspirado a confiar em um futuro mais próspero.

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Santarém como ponto de encontro

Embora conhecida pelas ilhas de Belterra e Alter do Chão, Santarém também é considerada um ponto de encontro para pescadores e agricultores familiares dos interiores do Pará e do Amazonas, que se encontram com a cidade pelos rios. Jacó Rego, de 46 anos, é um deles.

O pescador conta que “Trabalho na pesca desde que me entendo por gente. Meu pai já era pescador e minha mãe trabalhava com plantação, então desde cedo eu acompanhava meu pai e fui pegando o ofício”.

Atualmente morando em Pinduri, comunidade na subida do Rio Amazonas, Jacó conta que vivia em Urucurituba, comunidade no estado do Amazonas, cita que precisou se mudar devido ao fenômeno da ‘terra caída’, que atinge comunidades ao longo do Rio Amazonas, que provoca queda de grandes blocos de terra. O fenômeno é provocado pela erosão da margem do rio, gerando prejuízos e deixando desabrigados, que são obrigados a se mudar pela queda das casas.

Ao comparar as dificuldades da Pandemia com a mudança brusca provocada pela ‘terra caída’, Jacó cita que houve complicações, mas ao mesmo tempo, estar no limite ajudou na tomada de decisões:

“Pra gente foi um período difícil, mas também não foi tão ruim porque assim: não paramos a pesca totalmente. A gente continuou, mas a dificuldade entrou na hora de trazer aqui pra Santarém. A gente, do interior, tinha medo de vir. A gente ainda vinha aqui, mas era menos vezes que o normal e bem rapidinho, com medo, já querendo ir embora o mais rápido possível”.

Ele relembra que “A gente sabia mais do que acontecia (sobre a pandemia) pelos meios de comunicação, né? Mas poder público de nenhum lugar chegou aqui com a gente. A gente vem pra Santarém geralmente no sábado e junto com a gente vem quase todo mundo das áreas de várzea pra fazer as suas compras e voltar pro interior de novo, aí só vem outra vez quando traz o produto pra vender”.

No entanto, ele cita que “Nessa vinda de muita gente junta fica aglomerado né, além disso a gente fica transitando pela cidade fazendo nossas coisas e não se sabe quem está doente. Foi nessas vindas que foram levando a doença pras comunidades, né?”.

Jacó destaca “A única assistência que a gente tem nas comunidades são os ACS (agente comunitários de saúde). Eles mandam pro posto pra fazer teste, alguns exames, mas orientação especial sobre a covid-19 não teve”, diz.

No momento de enfrentar as primeiras dificuldades financeiras enfrentadas pela pandemia, ele relembra: “Pra pescador mesmo não saiu (auxílio financeiro especial durante a pandemia). Já quem recebia negócio de Bolsa Família que era na época, né? alguns receberam”, diz.

Entre os anos de 2020 e 2021, os beneficiários do Bolsa Família, que teve o nome alterado para Auxílio Brasil pelo então presidente Jair Bolsonaro (PL) tiveram prioridade para recebimento do Auxílio Emergencial. Este público recebeu o valor de R$ 1,2 mil mensais. Ao todo, o benefício especial da pandemia teve o valor gradativamente reduzido até o ano de 2022.

‘Queda de braço’ diária

A doença da Urina Preta, oficialmente conhecida como Síndrome de Haff, gerou polêmica no Pará e em outras cidades brasileiras no final de 2021 e em boa parte do ano de 2022, despertando temor na população. Ao todo, as notícias envolvendo a doença provocaram queda e até proibição da venda de algumas variedades de peixes e crustáceos, trazendo prejuízo para os feirantes. No entanto, para quem pesca, foi possível fazer adaptações para evitar prejuízos: “Na época pescamos outra espécie de peixe, por isso que não foi muito prejudicial, mas quando tudo aconteceu, a maioria do pessoal pesca o tambaqui ou a pirapitinga (variedades em alerta durante as investigações da doença)”.

Jacó conta que embora atualmente viva só, não trabalha sozinho. No geral, ele trabalha com os irmãos e o grupo é responsável pelo sustento de 10 pessoas: “Agora eu estou vivendo só, mas tem os meus irmãos que também pescam comigo e cada um deles tem as suas famílias. Nós pescamos juntos e dá pra sustentar praticamente todo mundo, 10 pessoas, exclusivamente da renda da pesca”.

Ele também enumera que a pandemia e a urina preta, junto com outros fatores econômicos interferiram no preço de itens indispensáveis em uma velocidade difícil de acompanhar:

“As coisas foram aumentando muito, têm coisa que subiu de preço semanalmente. Principalmente do petróleo, combustível que a gente consome muito. O gelo até não deu uma subida, mas outras coisas como óleo gasolina, linha e alimentação no geral subiram demais. Esse impacto foi muito forte pra nós porque o preço do pescado, ele quase não sobe, tipo assim, congela naquele preço e fica lá.. leva muito tempo pra subir, mas ai como aconteceu essa subida de tudo isso (insumos) aí ficou muito difícil e está difícil, daí acaba tendo que aumentar o preço só um pouquinho, pro pessoal poder pagar” diz.

Jacó Benício Rego

Presente e futuro

Jacó enfatiza que o preço dos alimentos subiu de forma desproporcional, o que traz dificuldade para quem tem uma família mais numerosa, com crianças ou idosos: “Cê vai no supermercado hoje em dia com R$ 100 e você não consegue levar quase nada. Uma botija de gás hoje é mais de R$ 100 e se já não tiver o botijão passa de R$ 200, você vai comprar um um litro de óleo e vai mais de R$ 7. A gasolina nem se fala, a gente consome muito isso”.

O pescador cita que, se fosse possível, gostaria que houvesse controle temporário nos preços de alguns itens: “Daria pra gente se estabelecer, né? Ir se equilibrando. Se não equilibrar, pelo menos tentar”. Ele também menciona as diferenças das dificuldades enfrentadas mas grandes cidades e nas comunidades: “A gente vê tanta coisa no nosso país hoje em dia, questão de pobreza, a gente vê tanta gente com passando necessidade e muita das não consegue sobreviver com nada”.

Ele complementa “Acho que pra nós em ribeirinho, pra nós que mora em área de várzea, nós que bebe da pesca, pra quem bebe da agricultura também vai aprendendo a equilibrar. Quem gosta da agricultura na várzea, dá um período e depois acabou, não ganha mais de nada. Já a gente pega o peixe pela safra também. Pouquinho pra cá, um pouquinho ali e a gente vai sobrevivendo”.

“Eu não vou dizer que está fácil, porque não está fácil. A gente batalha muito pra conseguir sobreviver através disso e com as coisas que a gente precisa mais caras, atrapalha muito, mas a gente vai levando devagar né? Difícil tentar dizer como vai ficar no futuro. Esperança a gente tem né, ela tá sempre aqui. A gente não desiste nem quando a gente não tem”.

Jacó Benício Rego

Ainda mencionando a desigualdade e os desafios enfrentados por quem vive nos centros urbanos e em comunidades, Jacó menciona que vê com indignação a realidade em muitas partes do país, mas ao mesmo tempo sente um pouco de alívio em ver que possuo o básico: “O Brasil é muito rico em muitas coisas, os nossos governantes que estão sabendo administrar tudo isso, porque se eles soubessem administrar tudo isso eu garanto que a população não vivia tão carente como tem muitos por aí que estão precisando muito de um alimento”.

Ele cita então, perplexo, um caso que viu na TV e sua reflexão sobre o caso: “Dia desses assistindo o jornal, a mulher dizendo que ela só tinha alimento ainda porque a vizinha dela dava. Por quê? Por quê que está dessa forma? Ao mesmo tempo o governo dizendo que tem um monte de gente empregada, que é isso, que é aquilo. O que não dizem, é que muitas vezes a pessoa tem emprego, mas está ganhando menos. Ganhar menos com as coisas custando cada vez mais? não fecha a conta”. E destaca “Às vezes não tem o dinheiro, mas o resto, o essencial, a gente tem tudo: o peixe, a verdura pra você colher e comer por lá. E é isso aí, eu fico indignado assistindo esse tipo de situação, da forma que tá acontecendo, é complicado demais”, desabafa.

“As vezes a gente até se acha no luxo de poder você morar bem num rio desse aqui, você ir lá no rio, pegar um peixe e ter o que comer. Você tendo uma farinha, tomate, cebola, as outras coisas, você planta pra você botar na alimentação e você comer, mas têm gente por aí que não têm nada disso”

Jacó Benício Rego

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série ‘Não paramos: os impactos da Covid-19 na vida de quem não pôde parar’ foi criada e produzida pela jornalista Tereza Coelho com apoio do International Center for Journalists (ICFJ), Meta Journalism Project e Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) disponível com exclusividade no Portal Roma News

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