Publicado em 18 de janeiro de 2025 às 08:51
Estudo publicado pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês) mostra que 37% das habilidades dos trabalhadores brasileiros vão mudar até 2030, dadas as novas exigências no mercado de trabalho a partir da adoção da inteligência artificial e outras tecnologias. O levantamento aponta a uma tendência menos catastrofista do impacto da transformação tecnológica no emprego, projetando a geração de 78 milhões de empregos no mundo até 2030.
No entanto, existe o desafio de qualificação da mão de obra. Enquanto especializações em big data, inteligência artificial e machine learning serão cada vez mais demandadas pelas empresas, a pesquisa cita funções administrativas, secretariais e operacionais entre aquelas que tendem a ser substituídas por tecnologias digitais.
Entre maio e setembro do ano passado, o Fórum Econômico Mundial coletou perspectivas de mais de mil empregadores relevantes, em 55 economias, para levantar as tendências do mercado de trabalho no contexto de adoção crescente da inteligência artificial e outras novas ferramentas nas organizações.
No Brasil, quase nove a cada dez empresas manifestam planos de aprimorar as habilidades da força de trabalho nos próximos cinco anos. Assim como em outros países da América Latina, lacunas relacionadas à formação básica - como conhecimento em matemática, português e inglês - são apontadas como barreiras para a transformação dos negócios no Brasil. O foco em requalificação e transformação digital será, assim, essencial para que os brasileiros possam aproveitar as novas oportunidades de emprego, de acordo com o estudo.
"O tema da inteligência artificial deixou de ser hype, filme de ficção científica ou tema de universidade, para ser tema do dia a dia do mercado de trabalho, cujo foco central se chama produtividade", comenta Hugo Tadeu, diretor do núcleo de inovação, inteligência artificial e tecnologias digitais da Fundação Dom Cabral (FDC), parceira da pesquisa no Brasil. Segundo ele, a agenda de formação, qualificação e treinamento tornou-se imperativa. "Parece que muito trabalhador brasileiro ainda não entendeu que a agenda da mudança é significativa. Se a sua empresa não patrocinar essa agenda, patrocine você", recomenda.
Conforme o estudo, 58% das empresas brasileiras esperam recrutar funcionários com novas habilidades, ao passo que 48% planejam promover a transição de funcionários que hoje exercem funções ameaçadas pelas tecnologias para outras em crescimento.
Na avaliação de Tadeu, a pesquisa sugere que as empresas brasileiras não estão necessariamente interessadas em fazer investimentos na formação, mas sim em contratar mão de obra já formada no mercado. O problema é que profissionais especializados estão em falta, tornando-se, dessa forma, cada vez mais valorizados. O custo fica, então, maior para as empresas do que formar pessoal "dentro de casa".
"As empresas não pretendem investir a contento. Elas pretendem contratar mão de obra já formada. Isso não sustenta crescimento. Na verdade, traz muito desafio porque aumenta o custo da própria mão de obra", observa o especialista da FDC.
Segundo Tadeu, além da falta de investimentos suficientes das empresas, as universidades estão "atrasadíssimas" na formação de profissionais em áreas de tecnologia, engenharia e matemática. Citando a estimativa, feita pelo estudo, de 170 milhões de empregos abertos por novas demandas no mercado trabalho, incluindo neste total 92 milhões de empregos atuais que serão substituídos no mundo, o diretor da FDC frisa que, ao mesmo tempo que as empresas precisam investir em qualificação, as universidades têm que ter a coragem de mudar suas grades curriculares.