Publicado em 17 de janeiro de 2025 às 17:57
O resgate de uma embarcação metálica antiga, encontrada durante escavações na obra do Parque Linear da Nova Doca, na Avenida Visconde de Souza Franco, em Belém, avanza sob a supervisão da Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop). Até o momento, duas partes da embarcação foram retiradas da quadra 1 do canal. Resta apenas a última parte para que o processo de restauração, estimado em aproximadamente 150 dias (cinco meses), seja iniciado.
A embarcação pode trazer informações valiosas sobre a história da formação urbana de Belém, explorando como, ao longo do tempo, a sociedade modificou sua relação com rios e igarapés, que eram vias de transporte antes do aterramento e asfaltamento da cidade. O achado foi feito em uma área que já funcionou como entreposto econômico e portuário, mas que hoje é predominantemente comercial e residencial, afastada da identidade portuária original.
“A construção histórica desse achado é um processo lento, pois exige um levantamento detalhado. Queremos compreender não apenas o objeto em si, mas também o contexto histórico em que ele se insere. Sabemos que esta embarcação pode ter sido utilizada para o comércio e serviços. Ela foi encontrada no antigo Igarapé das Almas, o que indica uma possível relação com o tráfego de mercadorias e pessoas entre a área portuária principal e os igarapés. Trata-se, no mínimo, de algo do século XIX, pois esteve enterrada por mais de 110 anos”, explicou Kelton Mendes, arqueólogo contratado pela empresa responsável pelas obras da Nova Doca.
Exposição
Após o resgate da terceira e última parte, a embarcação passará por restauração e conservação, conforme alinhado com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O processo conta com o acompanhamento da superintendente Cristina Vasconcelos e do arqueólogo Augusto Miranda. A embarcação será exposta ao público após o restauro.
“Atualmente, temos uma estrutura toda de ferro, mas a equipe de arqueologia continuará estudando para descobrir mais detalhes, como se havia partes de madeira ou se poderia ser um barco a vapor. Essas informações ajudarão a contar a nossa história. Sabemos que Belém nasceu voltada para o rio, mas com o tempo a cidade foi sendo aterrada. O Iphan participará de todas as etapas, pois somos responsáveis por resguardar a cultura nacional, e tudo que é arqueológico faz parte do nosso escopo”, destacou Cristina Vasconcelos.
A embarcação – com 22 metros de comprimento, 7 metros de largura e 2,25 metros de profundidade – foi retirada em três partes (proa e duas áreas mesiais) para minimizar intervenções e preservar suas características. Um laboratório está sendo montado no estacionamento de uma faculdade próxima ao Porto Futuro I para abrigar a embarcação durante o restauro e futura exposição.
“Agora aguardamos a remoção da última parte para iniciar o restauro. Isso inclui a montagem de uma estrutura elevada para acomodar a embarcação. Com a retirada completa, faremos análises laboratoriais, limpeza e os procedimentos adequados para restauração e exposição”, afirmou Tainá Arruda, arquiteta responsável pelo projeto.
A equipe envolvida no resgate, restauração e musealização também inclui o arqueólogo João Aires, o historiador e arqueólogo da Secretaria de Estado de Cultura (Secult), Paulo do Canto, e a museóloga Doriene Trindade.
Com informações: Agência Pará