Publicado em 10 de dezembro de 2024 às 15:45
A um dia de o Comitê de Política Monetária (Copom) decidir sobre o patamar da taxa de juros, hoje em 11,25% ao ano, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) afirmou que uma eventual elevação - que é a aposta do mercado - demonstraria que o Banco Central "ignora" elementos importantes dos cenários econômicos nacional e internacional. Em nota divulgada hoje, a entidade classificou a política monetária ainda mais contracionista como um erro, tendo em vista a redução "significativa" do impulso fiscal sobre a atividade econômica, considerando também o pacote apresentado pelo governo ao Congresso.
Para a CNI, o BC também precisa ponderar outros elementos, como a desaceleração da economia brasileira "já em curso" e a tendência de corte de juros nas principais economias globais. Além disso, classificou a reação inicial do mercado ao pacote fiscal como "exagerada".
A posição da Indústria contrasta com a avaliação do setor financeiro. Como mostrou o Projeções Broadcast mais cedo, a maioria do mercado espera intensificação no ritmo de aperto monetário com uma alta de 0,75 ponto porcentual na Selic, para 12%. Este é o cenário base de 26 das 39 instituições consultadas em pesquisa relâmpago, feita entre ontem e hoje. Onze casas preveem alta ainda maior, de 1 ponto, em seus cenários-base, possibilidade que ganhou força nos últimos dias, à luz de nova desancoragem das expectativas de inflação do último boletim Focus e persistência do câmbio ao redor de R$ 6.
Enquanto o mercado mantém uma postura mais cética sobre os resultados do pacote fiscal apresentado ao Congresso pelo governo, a CNI afirmou hoje que as medidas irão melhorar a sintonia entre as políticas fiscal e monetária e contribuir para a sustentabilidade do novo arcabouço fiscal.
"Também é positivo o fato de o pacote conter medidas que são de caráter estrutural, como a revisão da regra de reajuste do salário-mínimo, da regra que determina o valor do abono salarial e da regra que define a contabilização da renda para fins de recebimento do Benefício de Prestação Continuada (BPC)", disse a entidade.
Sobre a inflação, a CNI avaliou que as propostas vão impor freio adicional no impulso fiscal sobre a economia, pontuando ainda a previsão de que as despesas federais devem registrar queda de 1,8% na comparação do segundo semestre de 2024 em relação ao segundo semestre de 2023 (desconsiderando o pagamento adicional de precatórios em 2023).
"A CNI prevê que as despesas terão crescimento real de 2,1% em 2025, ritmo menor que o previsto para 2024, de 4,1% (também desconsiderando o pagamento adicional de precatórios em 2023)", disse a Confederação, observando ainda que o limite inferior da meta fiscal de resultado primário deverá ser cumprido neste ano.
Para a CNI, a reação negativa do mercado ao pacote fiscal, que gerou uma desvalorização da taxa de câmbio e alta nos juros futuros, será revertida uma vez que a reforma da renda que será enviada ao Congresso será neutra do ponto de vista fiscal. "Ainda, não se deve tomar decisões de política monetária com base em seus efeitos temporários", disse a entidade, para quem os mercados de trabalho e de crédito já dão sinais de desaceleração.
"Elevar a taxa de juros é jogar contra o esforço fiscal em curso, uma vez que aumenta o custo da dívida pública, já que a Selic indexa parte considerável dos títulos públicos. Cada ponto porcentual a mais na Selic representa R$ 50,3 bilhões a mais na dívida bruta, segundo estimativas do próprio Banco Central", apontou.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, disse que o "é totalmente inoportuno" para o BC elevar a Selic. "Seria uma medida excessiva em termos de controle da inflação e apenas traria restrições adicionais ao crescimento do país", disse em nota da entidade, que aposta ainda que as condições climáticas mais favoráveis em 2025 devem contribuir para a desaceleração expressiva dos preços de alimentos e energia, desfazendo duas fontes de pressão da inflação corrente.