Publicado em 9 de dezembro de 2024 às 18:55
O dólar à vista ganhou força ao longo da tarde e, após instabilidade e troca de sinais, encerrou a sessão desta segunda-feira, 9, em alta moderada, renovando pico histórico nominal de fechamento.
Pela manhã, o dólar chegou a operar em queda, embora não tenha ensaiado furar o piso de R$ 6,00. Segundo operadores, a valorização de commodities como minério de ferro e petróleo, na esteira de anúncio de estímulos econômicos na China, abriu espaço para ajustes e realização pontual de lucros no mercado de câmbio local.
Com mínima a R$ 6,0376 e máxima a R$ 6,0898, na última hora de negócios, o dólar à vista encerrou a sessão em alta de 0,20%, cotado a R$ 6,0829. A divisa acumula valorização de 1,36% nos seis primeiros pregões de dezembro, após ter subido 3,81% em novembro e 6,31% em outubro.
"A fragilidade na condução do ajuste fiscal aumenta a volatilidade e vem limitando o espaço para uma recuperação mais consistente do real, com o dólar mantendo-se acima de R$ 6,00", afirma o head de câmbio da B&T Câmbio, Diego Costa.
Há receio de que o pacote de corte de gastos apresentado pelo governo seja parcialmente desidratado durante a tramitação do Congresso, sobretudo após lideranças do PT terem sinalizado que pretendem alterar as medidas que tratam do acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC).
Causou desconforto hoje à tarde a decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF) de reiterar pedido do governo para reconsiderar critério de liberação de emendas parlamentares. Deputados e senadores havia mostrado insatisfação com a decisão de Dino e ameaçaram travar a tramitação do pacote de gastos no Congresso. Segundo fontes ouvidas pelo Broadcast, Lula se reuniria hoje com os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para tratar do tema.
A incerteza no campo fiscal contribui para a ampliação da desancoragem das expectativas de inflação, como revelado hoje Boletim Focus de hoje, e aumenta a expectativa de aperto monetário mais forte. Casas relevantes como Itaú, Santander, Citi e Warren esperam que o Comitê de Política Monetária do Banco Central acelere o ritmo de alta da taxa Selic neste ano.
"Vimos um comportamento de queda do dólar pela manhã, relacionado a medidas do governo chinês que acabaram impulsionando os preços das commodities. Mas o clima de cautela acabou prevalecendo por conta da expectativa pela decisão do Copom nesta semana", afirma a economista-chefe do Ouribank, Cristiane Quartaroli.
Em tese, juros mais altos seriam favoráveis ao real, ao ampliar a atratividade da renda fixa brasileira. Mas a percepção de risco fiscal e de esfriamento da atividade mais à frente diminuem o apelo de ativos brasileiros. Há também uma sazonalidade ruim para o mercado de câmbio local, com remessas de lucros e dividendos típicas de fim de ano.
Outro ponto é a perspectiva de dólar forte no mundo no segundo governo Donald Trump, cujas políticas, vistas como inflacionárias, podem limitar o espaço para corte de juros pelo Federal Reserve. Após a rodada de indicadores do mercado de trabalho na semana passada, investidores aguardam a divulgação na quarta-feira, 11, do índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) em novembro para reafirmar as apostas em relação à decisão do Fed neste mês.
O economista-chefe do Banco Fibra, Marco Maciel, afirma que o nível atual da taxa dos Treasuries de 2 anos deveria levar a uma valorização das divisa emergentes, com o dólar descendo para uma faixa de R$ 5,90. Ele pondera que a incerteza fiscal ainda assombra os ativos brasileiros, dado que o governo aparentemente superestimou a economia de despesas com o pacote anunciado pelo governo.
"A tendência de depreciação relativa do real para R$ 6,00 tende a prevalecer em dezembro e no início do primeiro trimestre de 2025, principalmente por conta do quadro fiscal doméstico", diz Maciel, para quem o dólar deve ir, em um primeiro momento, para R$ 6,10 e, em seguida, para a vizinhança de R$ 6,20 entre este mês e o fim do primeiro trimestre de 2025.
Ibovespa
O Ibovespa teve um início de semana descolado de certa cautela em Nova York e, no plano doméstico, do prosseguimento da alta do dólar frente ao real, bem como da curva dos contratos de Depósito Interfinanceiro (DI), em meio a revisões nas projeções de instituições financeiras sobre a decisão do Copom, no dia 11
Movida pela promessa de novos estímulos fiscais na China, a principal ação do Ibovespa, Vale ON (+5,32%), carregou o índice da B3 acima desde cedo, auxiliada por outro carro-chefe das commodities, Petrobras (ON +2,64%, PN +2,59%), descolando a Bolsa da sessão negativa em Nova York, com rendimentos dos Treasuries em alta e ações em baixa por lá. No fechamento em NY, as perdas ficaram entre 0,54% (Dow Jones) e 0,62% (Nasdaq) na sessão.
O desempenho de Vale e Petrobras compensou a fraqueza das ações de grandes bancos na sessão - exceto Itaú, que subiu hoje 0,49%. Na ponta ganhadora do Ibovespa, nomes do setor metálico como CSN Mineração (+6,68%) e CSN (+4,39%), além de Vale, Bradespar (+4,98%) e Marfrig (+4,52%). No lado oposto, ações associadas ao ciclo doméstico, como Pão de Açúcar (-5,06%), Petz (-4,51%) e Cogna (-4,17%). Enquanto o índice de materiais básicos (IMAT), correlacionado a preços e demanda formados no exterior, avançou hoje 3,01%, o índice de consumo (ICON) cedeu 0,41%.
Assim, com apoio das ações correlacionadas ao exterior, o Ibovespa subiu hoje 1,00%, aos 127.210,19 pontos, entre mínima de 125.945,89, correspondente ao nível de abertura, e máxima de 127.541,62 pontos, com giro a R$ 21,4 bilhões na sessão. No mês, o Ibovespa tem ganho de 1,23%, com perda no ano a 5,20%.
Em estimativas divulgadas nesta segunda-feira, a Warren Investimentos informou esperar alta de 0,75 ponto porcentual na taxa Selic na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) desta semana. Em relatório, assinado pelo estrategista-chefe, Sérgio Goldenstein, porém, a casa considera que haver possibilidade de alta de 1 ponto. Também nesta tarde, o Itaú revisou estimativa para a taxa Selic na reunião do Copom da próxima quarta-feira (11). O banco elevou sua projeção de alta de 0,75 ponto porcentual para 1 ponto, levando a taxa básica para 12,25%.
"A Bolsa chegou a subir quase 1,5% no melhor momento do dia, e o grande destaque foi o anúncio sobre a política fiscal e o sinal sobre a política monetária na China, de afrouxamento, o que favorece em especial os produtos do setor de mineração e siderurgia. Mas a situação fiscal no Brasil continua a ser um fator de preocupação, com desdobramentos na Câmara para os próximos dias, o que ainda traz muita incerteza ao investimento em ativos de risco", diz Daniel Teles, especialista da Valor Investimentos.
Ponto alto do dia, o Politburo da China anunciou políticas fiscais proativas e uma postura monetária "moderadamente frouxa", a primeira mudança desde 2011. O governo chinês também prometeu medidas para estabilizar os mercados de ações e de imóveis, o que contribuiu para dar impulso adicional aos preços do petróleo e dos metais básicos nesta abertura de semana.
Apesar da boa nova no front externo, fatores domésticos continuam a afetar a percepção sobre ativos brasileiros, com a curva de juros, em especial, ainda embutindo prêmios, observa Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, destacando abertura maior na curva de juros doméstica ao que se viu hoje na dos Treasuries, em Nova York. "Alta de 1% hoje no Ibovespa foi muito carregada por Vale, Petrobras e exportadoras. Perspectiva para o mercado de ações ainda é difícil", acrescenta.
"Mercado já amanheceu hoje com certo otimismo, em recuperação com a China e seu expansionismo fiscal, que ajuda o setor de commodities", diz Rodrigo Moliterno, head de renda variável da Veedha Investimentos. "Mas fora do setor de commodities, o fantasma doméstico prevalece, com foco ainda na situação fiscal daqui", acrescenta Moliterno, mencionando, como Quaresma, recentes iniciativas sobre a tramitação do pacote de gastos na Câmara, como as referentes ao BPC, que podem resultar em proposta diluída, ainda mais enfraquecida - o que seria um "banho de água fria" quando a expectativa inicial era por algum endurecimento sobre a proposta original do governo.
Juros
Os juros futuros começaram a semana do Copom sob nova rodada de forte alta, conduzida pelo aumento do pessimismo com o cenário inflacionário que deve demandar ação ainda mais firme do Banco Central na Selic. O avanço das medianas de IPCA, PIB e Selic trazidas pelo Boletim Focus já afetava as taxas pela manhã, mas atualizações de revisões que saíram ao longo do dia elevaram a pressão. A falta de evolução nas questões fiscais e, em menor magnitude, o avanço dos rendimentos dos Treasuries contribuíram para a escalada. O dólar em queda ajudava a limitar a abertura da curva, mas depois a moeda americana passou a subir.
A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2026 fechou em 14,59%, de 14,41% no ajuste de sexta-feira. A do DI para janeiro de 2027 saltou de 14,76% para 15,02% e a do DI para janeiro de 2029, de 14,46% para 14,68%.
Apesar da postura fiscal mais proativa e uma política monetária mais frouxa indicada pela China, que em tese ajudaria economias emergentes, o mercado de juros viveu mais uma sessão trevosa, principalmente no trecho intermediário da curva, que capta os efeitos da atual trajetória da Selic.
Para o estrategista-chefe e sócio da EPS Investimentos, Luciano Rostagno, o mercado está colocando "preços de crise" para 2025 e na hipótese de a Selic subir até aos quase 16% precificados na curva "a economia vai afundar" em 2026. "Vai ter uma pressão muito grande sobre a atividade econômica que pode colocar o país numa recessão", afirmou.
Ele informou que, no meio da tarde, a precificação de Selic terminal já era de 15,83%. Para o Copom desta semana, a curva apontava 80% de chance de alta e 1 ponto porcentual e 20% de probabilidade de 0,75 ponto. Para o Copom de janeiro, a precificação era de 108 pontos-base, ou seja começam a surgir apostas de avanço ainda mais agressivo, de 1,25 ponto.
Na ótica da economista-chefe da CM Capital Markets, Carla Argenta, os números do Boletim Focus hoje, juntamente com as revisões de IPCA, PIB, câmbio e Selic que seguiram ao longo do dia, foram o grande "driver" da curva nesta segunda-feira. "Foi um catalisador, dado que estamos na semana do Copom e, a depender do comunicado, podem continuar ao longo da semana", afirmou.
No Focus, assim como para 2024 (4,71% para 4,84%), a mediana para o IPCA de 2025 superou o teto da meta, de 4,50%, ao saltar de 4,40% para 4,59%. A mediana para o IPCA acumulado em 12 meses disparou a 4,64%. O ajuste nas medianas de IPCA se deu mesmo com o aumento das medianas para a Selic. A expectativa para o fim de 2024 subiu de 11,75% para 12,00%, refletindo agora apostas majoritárias de alta de 0,75 ponto nesta semana, ante 0,50 na pesquisa anterior. Para o fim de 2025, subiu de 12,63% para 13,50%. Para o PIB, as medianas para 2024 (3,22% para 3,39%) e 2025 (1,95% para 2,00%) também avançaram.
Além da Focus, várias instituições divulgaram ajustes nas expectativas para variáveis econômicas ao longo do dia, com destaque para a revisão do call do Itaú para Selic, em relatório O banco espera agora aperto de 1 ponto na quarta-feira, para 12,25%, contra 0,75 ponto anteriormente, e acredita que o Copom sinalizará a mesma dose para a reunião de janeiro.
Pelo lado fiscal, há preocupação com as pautas que estão no Congresso, na medida em que o ano vai terminando. Há temor de que a decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de rejeitar o recurso da Advocacia-Geral da União (AGU) que pedia a reconsideração de parte da decisão que liberou as emendas, possa atrasar a tramitação do pacote de corte de gastos.
No mercado de Treasuries, os yields subiram, com o da T-Note de dez anos chegando ao fim da tarde em 4,19%. "A abertura não foi expressiva como a daqui, mas ajudou a deteriorar os mercados", disse Rostagno. A virada do dólar para cima, fechando aos R$ 6,0829, nova máxima histórica, também pesou sobre a curva.