4 mitos e verdades sobre doenças cardiovasculares em jovens

Veja como o cuidado com a saúde do coração deve ser adotado por todas as idades

Publicado em 15 de abril de 2025 às 18:14

A presença de problemas cardíacos em pessoas com menos de 50 anos tem se tornado cada vez mais comum (Imagem: Photoroyalty | Shutterstock)
A presença de problemas cardíacos em pessoas com menos de 50 anos tem se tornado cada vez mais comum Crédito: Imagem: Photoroyalty | Shutterstock

O cuidado com a saúde do coração não é exclusivo da terceira idade. Dados do Ministério da Saúde mostram que as doenças cardiovasculares ainda ocupam o topo das causas de morte no Brasil. Contudo, agora, com um agravante: o número de pessoas entre 18 e 50 anos afetados por essas condições vem crescendo significativamente.

Segundo o Dr. Alexandre Siciliano, cirurgião cardíaco do Hospital São Lucas Copacabana (Rede Américas), casos de hipertensão e doença arterial coronariana (DAC) estão sendo diagnosticados com mais frequência nessa faixa etária.

A seguir, veja quatro mitos e verdades sobre o surgimento das doenças cardiovasculares em jovens!

1. Pessoas mais novas não têm sintomas de doenças do coração

Mito . Uma doença cardiovascular apresenta diversos sintomas marcantes além da dor no peito, e isso ocorre também em jovens. O infarto agudo do miocárdio, por exemplo, é caracterizado por falta de ar, tonturas que não passam, queimação no estômago e suor excessivo, independentemente da idade. Nas mulheres, seus sinais podem ser mais sutis, como dores na mandíbula, no pescoço e nas costas , além da sensação de desconforto no estômago.

“Os sinais em pessoas mais jovens podem não ser tão evidentes, mas eles existem e devem ser reconhecidos. Não conseguir acompanhar o ritmo de caminhada de outras pessoas da mesma idade ou ficar cansado com facilidade, além de passar mal com frequência, com episódios recorrentes de tonturas e até mesmo desmaios, podem indicar que o coração não está bem”, detalha o Dr. Alexandre Siciliano.

2. Alimentação pouco saudável e estilo de vida sedentário contribuem para problemas no coração

Verdade . Nas últimas décadas, o consumo em grande quantidade de fast-foods , alimentos ultraprocessados, açucarados e com alto teor de sódio, como refrigerantes, biscoitos recheados, nuggets e salsichas, tem contribuído para o aumento das placas de gordura que se ligam às paredes das veias e artérias, formando a muito conhecida aterosclerose. Esse acúmulo dificulta o fluxo sanguíneo, causando a elevação da pressão arterial e favorecendo o desenvolvimento de condições como a doença arterial crônica (DAC).

Aliado a isso, muitos jovens seguem uma rotina sedentária, com pouca ou nenhuma atividade física, favorecendo o aumento da gordura corporal e enfraquecendo os músculos. Conforme o Dr. Alexandre Siciliano, esta é a receita ideal para que não apenas a saúde do coração esteja em perigo, mas também a de todo o organismo, já que o sedentarismo, aliado à obesidade e a uma alimentação pouco saudável, também pode causar problemas no fígado, nos rins e em outros órgãos.

“O ideal é adotar uma dieta rica em vitaminas, nutrientes e minerais desde jovem, de preferência na infância, com pouca ou nenhuma oferta de alimentos ultraprocessados e açúcar ou sódio. Incluir exercícios no dia a dia, como a prática de um esporte, musculação ou outras atividades, também é essencial para reduzir a gordura corporal e fortalecer o corpo”, explica o médico.  

Cuidar do coração na juventude fortalece a saúde a longo prazo, especialmente em quem tem antecedentes familiares (Imagem: Studio Romantic | Shutterstock)
Cuidar do coração na juventude fortalece a saúde a longo prazo, especialmente em quem tem antecedentes familiares Crédito: Imagem: Studio Romantic | Shutterstock

3. Mesmo que tenham casos de doenças cardiovasculares na família, jovens só precisam se consultar com cardiologistas quando forem mais velhos

Mito . Pessoas com casos confirmados de doenças cardiovasculares na família, principalmente em primeiro grau, como pai e mãe, devem acompanhar a saúde do coração desde a juventude. Isso porque muitas questões podem ser hereditárias, como no caso das dislipidemias (aumento do colesterol) e das miocardiopatias (doenças que alteram a estrutura muscular do coração e podem causar insuficiência cardíaca).

“Quanto mais cedo o paciente com histórico familiar de doença cardiovascular realizar um mapeamento da saúde do coração e identificar riscos elevados para determinadas condições, melhor será o seu acompanhamento. Em muitos casos, essa abordagem permite reduzir o risco de progressão da doença, contribuindo para uma melhor qualidade de vida”, relembra o Dr. Rafael Vilanova, gerente de Cardiologia do Complexo Hospitalar de Niterói (CHN), que também faz parte da Rede Américas.

Conforme o médico, os casos de doença arterial crônica vêm aumentando significativamente entre os jovens. “Seu rastreio começa com o exame clínico realizado pelo cardiologista e, quando indicados, os exames de imagem são ferramentas importantes para o rastreamento da doença. Entre eles, destacam-se o escore de cálcio, uma tomografia sem contraste que quantifica placas de cálcio nas artérias coronárias; e a angiotomografia coronariana, exame com contraste que permite identificar tanto placas calcificadas quanto não calcificadas. Esse último também avalia o grau de obstrução e a extensão da doença”, explica.

4. Tecnologias abraçadas pelas novas gerações, como o vape, não prejudicam o coração

Mito . Muitos jovens acreditam que o vape não causa problemas à saúde quando usado sem a nicotina, que está presente nos cigarros comuns e pode causar diversas doenças cardiovasculares, além de danos irreversíveis aos pulmões e outros órgãos importantes. Porém, uma pesquisa apresentada no evento da Sociedade de Radiologia da América do Norte de 2024, intitulada “ Vaping Causes Immediate Effects on Vascular Function “, mostrou que, mesmo sem a presença da substância, o uso constante do vape é capaz de alterar tanto o fluxo quanto a oxigenação sanguínea.

Já um dos estudos do evento do ano passado da American College of Cardiology , de título “ Electronic Nicotine Product Use Is Associated with Incident Heart Failure – The All of Us Research Program ”, revelou que o uso de vape e cigarros eletrônicos pode aumentar o risco de desenvolver insuficiência cardíaca em até 19% — principalmente do tipo fração de ejeção preservada (ICFEp), que leva ao enrijecimento do músculo cardíaco e dificulta o enchimento do órgão.

Segundo o Dr. Rafael Vilanova, o vape não é inofensivo e o seu uso ou o uso de outros dispositivos de cigarro eletrônicos não deve ser realizado. “Não há um nível seguro do uso dos vapes ou do tabagismo , e os danos à saúde são cumulativos”, finaliza.

Por Paula Borges