Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 18:13
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou nesta quarta-feira, dia 19, que brasileiros não sejam alvo de racismo e xenofobia em Portugal, durante reunião com o primeiro-ministro do país, Luís Montenegro. >
"Mantivemos uma conversa muita franca sobre como melhorar a vida de nossas comunidades expatriadas. Afirmei ao primeiro-ministro Montenegro que precisamos desconstruir a narrativa mentirosa que associa a migração brasileira ao aumento da criminalidade em Portugal. Sabemos bem que não há espaço para racismo e xenofobia entre nós", afirmou Lula, em discurso após a cúpula entre governos, no Palácio do Planalto.>
As denúncias de crimes contra imigrantes brasileiros cresceram em Portugal, acompanhando o aumento da comunidade brasileira no país, nos últimos anos. Conforme os dados mais recentes do Itamaraty, há 513 mil nacionais brasileiros vivendo em Portugal, o segundo maior contingente de expatriados no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.>
Dados da Comissão para Igualdade e Contra a Discriminação Racial, órgão português responsável pelo registro de casos, revelam aumento de 833% das queixas de brasileiros: foram 18 em 2017 e 168 em 2022. Não há dados mais recentes, porque a comissão passou um ano paralisada e voltou a funcionar apenas em dezembro passado, com a posse dos novos integrantes e seu funcionamento vinculado à Assembleia da República Portuguesa.>
Promessa de tolerância zero>
"Não posso garantir, tenho que ser completamente honesto, que não possa existir episodicamente alguma manifestação de racismo, de xenofobia. O que posso dizer é que temos tolerância zero para quem tiver um comportamento dessa natureza", prometeu Montenegro>
Segundo o primeiro-ministro, a política de tolerância zero passa pela prevenção, pela postura "inequívoca" de repressão "a qualquer tentação" de prática de crimes e também pela proteção a pessoas que possam estar expostas e virem a ser vítimas. Ele afirmou que os países trabalham para atingir uma cooperação melhor a fim de "afastar qualquer ocorrência de comportamentos xenófobos".>
O premiê do Partido Social Democrata repetiu, porém, a linha de discurso de autoridades portuguesas distintas no espectro político local: os casos são isolados. Esse argumento é similar ao do presidente do Parlamento e ao da diplomacia do governo antecessor, de António Costa, do Partido Socialista.>
"Os portugueses, na sua esmagadora maioria, esmagadora mesmo, não têm nenhuma, mas nenhuma mesmo, tendência para fenômenos de xenofobia. Não têm", afirmou Montenegro.>
Segundo o premiê, a relação com os brasileiros é muito próxima pela identidade de valores e cultura, além do idioma comum. Ele afirmou que, se não fosse assim, os brasileiros não teriam tanta vontade de viver em Portugal, nem os portugueses de acolhê-los.>
"Em casos excepcionais e em casos graves - às vezes basta haver um caso ou dois, que é contaminada toda uma comunidade. Temos que fazer a pedagogia... Atenção, não extraiam daqui nenhuma diminuição do valor das coisas. Não estou a dizer que um caso que seja não é uma preocupação, claro que é. Mas temos de relativizar. Não podemos extrair a conclusão, com a exceção, de que isso é a regra. Efetivamente não é.">
A cobrança estava na pauta das reuniões de Lula com Montenegro e com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa, na véspera, também em Brasília. A diplomacia brasileira já havia levado as queixas ao conhecimento das autoridades portuguesas.>
Na véspera, o presidente de Portugal destacou que regulamentou a facilitação dos pedidos de residência, na semana anterior. A mudança na lei promulgada permitirá que brasileiros possam dar entrada no processo de moradia para estudo ou trabalho durante viagens como turistas, sem necessidade de visto prévio.>
"Essa lei acaba de ser regulamentada e uma das preocupações é não só garantir os direitos dos que se encontram em Portugal e ultrapassar problemas de regularização como abrir um caminho para o futuro, que é fundamental para a sociedade e economia portuguesa, que tanto tem se beneficiado das centenas de milhares de brasileiros que já vivem em Portugal", afirmou o presidente.>
Integração de imigrantes>
Montenegro também falou dos esforços para facilitar a integração de imigrantes em Portugal - o país tem incentivado a imigração para dinamizar a economia, embora tenha havido crescimento também de setores radicais de direita com discursos de ódio, inclusive no Parlamento.>
O atual governo português extinguiu o antigo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) e transferiu as tarefas para Agência para a Integração, Migrações e Asilo (AIMA).>
A agência estabeleceu uma força-tarefa para reduzir a fila de espera e processar a documentação de cerca de 400 mil imigrantes no país. A maior parte dos casos pendentes é de brasileiros, grupo que compõe 35% dos estrangeiros residentes em Portugal: são 368 449 brasileiros, conforme dados do país, de 2023. O total de imigrantes era de 1.044.606 estrangeiros.>
Montenegro afirmou que determinou um reforço nas equipes de atendimento aos imigrantes em todo o país e que atualmente há mais de 25 centros onde os processos de regularização tramitam. Segundo ele, a capacidade de resposta da burocracia é quatro ou cinco vezes maior do que há dez meses, quando assumiu o poder.>
"A expectativa é nos próximos meses poder fechar essa página e passarmos a ter regularidade no fluxo de entrada no nosso país", afirmou o primeiro-ministro.>
Segundo, o governante os 500 mil brasileiros vivendo na sociedade portuguesa são parte ativa e colaboram com o momento positivo do país.>
"Quero assegurar aos brasileiros, ao presidente da República e aos membros do governo brasileiro que nós em Portugal temos uma relação de perfeita articulação com os brasileiros que escolheram viver em Portugal. São efetivamente a maior comunidade de imigrantes que temos em nosso país e por isso mesmo aquela que está mais bem integrada", afirmou o premiê. "Isso é motivo para eu reconhecer gratidão que o governo português aqueles que nos têm procurado para alimentar o sonho de alcançarem maior prosperidade para suas famílias.">