Publicado em 10 de setembro de 2024 às 09:58
Os gastos do Brasil com educação, do ensino fundamental ao superior, diminuíram 2,5% ao ano entre 2015 e 2021, enquanto os países membros da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fizeram movimento inverso, com aumento de 2,1% por ano no mesmo período, conforme o estudo Education at a Glance 2024, divulgado pela organização internacional nesta terça-feira, 10.>
Se considerar a participação dos gastos públicos em educação como parte dos gastos totais do governo, a redução aconteceu não apenas no Brasil como nos outros países do estudo. O montante foi de 11,2% em 2015 para 10,6% em 2021 no Brasil - não muito diferente dos países da OCDE, que no mesmo período foram de 10,9% para 10,0%.>
No período entre 2015 e 2021, o Brasil viu sua capacidade orçamentária recuar diante da crise socioeconômica, e depois pelos efeitos da pandemia. Para retomar o equilíbrio fiscal, o governo federal recorreu a uma medida de teto de gastos que conteve a escalada de gastos públicos.>
Especialistas defendem investimentos dos governos em educação como forma de alavancar o desenvolvimento do País, mas destacam a necessidade de aumentar a eficiência do gasto para melhorar o alcance dos resultados, além de torná-los mais equitativos nas diferentes regiões e camadas sociais do País.>
O investimento brasileiro em educação básica equivalente a menos de um terço do que é gasto pela média da OCDE. Na maioria dos países, os gastos aumentam de acordo com o nível de ensino.>
O gasto médio anual brasileiro por aluno em instituições públicas de ensino fundamental I é de US$ 3.668,00, comparado a uma média de US$ 11.914,00 nos países da OCDE.>
O gasto médio anual brasileiro por aluno em instituições públicas de ensino fundamental II é de US$ 3.745,00, comparado a uma média de US$ 13.260,00 nos países da OCDE.>
O gasto médio anual brasileiro por aluno em instituições públicas de ensino médio é de US$ 4.058,00, comparado a uma média de US$ 12.713,00 nos países da OCDE.>
A exceção é o investimento em educação superior, em que o País tem gasto bastante superior em relação ao que investe na educação básica. São US$ 13.569,00 investidos nas universidades públicas. Ainda assim o montante ainda abaixo da média de US$ 17 138,00 que os países economicamente desenvolvidos colocam no mesmo nível de ensino.>
Diante dos resultados pífios de aprendizagem do Brasil no ensino básico, grande parte dos especialistas reivindica maior atenção do poder público (incluindo o direcionamento de verbas) para a educação infantil, fundamental e média.>
Estudos - entre eles o do Prêmio Nobel de Economia James Heckman, de 2000 - já apontaram que a cada US$1 investido na primeira infância (faixa entre zero e seis) anos, o retorno para a sociedade é de US$ 7. Políticas públicas de qualidade com foco nessa faixa etária são capazes de produzir benefícios sociais não só na aprendizagem, mas em diversas áreas, como saúde, economia, segurança pública e assistência social.>
A distribuição dos gastos do governo com educação por nível de governo difere entre os países. Em algumas nações, todo o gasto final com educação vem dos governos centrais, enquanto em outros países todo o gasto final vem dos governos locais ou regionais.>
No Brasil, a maior parte do investimento na educação infantil (creche e pré-escola) e no ensino fundamental é feita pelos governos municipais, enquanto os Estados ficam a cargo dos governos estaduais.>
Educação Infantil - O documento não detalha os valores em dólar gastos pelo Brasil ou pelos países da OCDE, mas ressalta que a etapa escolar "tem recebido muita atenção nos últimos anos devido à sua importância, especialmente para crianças de famílias carentes".>
No entanto, o Brasil conseguiu um aumento de investimento público em educação infantil bastante superior em relação à alta dos países economicamente desenvolvidos. Enquanto o governo aumentou 29% do gasto em relação ao PIB entre 2015 e 2021, em toda a OCDE, a alta foi de em média 9%.>
"A educação infantil pode ajudar a reduzir as lacunas de desenvolvimento que colocam algumas crianças em desvantagem quando se matriculam na escola primária", destaca o estudo da organização internacional.>
Na maioria dos países desenvolvidos, 96% das crianças estão matriculada na educação infantil um ano antes do início do ensino fundamental. No Brasil, a taxa não ficou tão abaixo, em 90%.>
"Embora a maioria das crianças e jovens participe da educação nos anos anteriores e posteriores ao ensino obrigatório, nem todos o fazem. Para aumentar o número de matrículas nos primeiros anos ou entre os jovens, doze países membros da OCDE e países em vias de adesão aumentaram a duração do ensino obrigatório na última década", compara o levantamento.>
Em média, nos países da OCDE, o ensino obrigatório agora dura 11 anos. No Brasil, o ensino obrigatório é mais longo, com duração de 13 anos, dos 4 aos 17 anos de idade.>