Malhação de Judas chega aos 85 anos com crítica social e muita tradição no bairro da Cremação

Festa centenária mistura crítica social, brincadeiras e tradição no sábado de Aleluia no bairro da Cremação, em Belém.

Publicado em 17 de abril de 2025 às 18:02

Festa centenária mistura crítica social, brincadeiras e tradição no sábado de Aleluia no bairro da Cremação, em Belém.
Malhação de Judas chega aos 85 anos com crítica social e muita tradição no bairro da Cremação Crédito: MÁCIO FERREIRA / AG BELÉM

A tradicional Malhação de Judas do bairro da Cremação chega à sua 85ª edição neste sábado de Aleluia (19), mantendo viva uma das festas mais simbólicas da cultura popular de Belém. O evento, que toma conta da rua Fernando Guilhon, mistura crítica social, brincadeiras e muita irreverência, com mais de uma dezena de bonecos representando temas que incomodam a comunidade — como racismo, homofobia, preconceito e até doenças como a dengue.

Neste ano, a festa começa já na sexta-feira (18), às 19h, com o "velório" do Judas. No sábado, a programação segue a partir das 9h com atividades lúdicas como quebra-pote e corrida de saco, até o aguardado momento da malhação — quando os bonecos são espancados pela criançada e jovens com pedaços de madeira. Alguns deles, segundo a organização, terão pequenas quantias em dinheiro escondidas nas roupas para animar ainda mais a disputa.

O visual dos Judas deste ano promete surpreender: dos modelos de terno e gravata aos esportivos, tudo é válido para provocar o público. E, como manda a tradição, a identidade dos “personagens” que serão malhados segue em segredo — alimentando a expectativa sobre possíveis figurinhas carimbadas do noticiário ou das redes sociais.

A festa conta com apoio da Prefeitura de Belém, por meio da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Semcult), e terá reforço na segurança, interdição do trânsito no entorno e estrutura para comércio ambulante. Outros bairros como Condor e Guamá também receberão apoio para realizar suas próprias versões da Malhação de Judas.

Raízes populares

A Malhação de Judas da Cremação nasceu ainda nos anos 1940, pelas mãos de Raimundo Flaviano da Silva, que criou o primeiro boneco inspirado no apóstolo que traiu Jesus. Com o tempo, a festa ganhou força com o filho dele, Francisco Raimundo Neto, o “Quincas”, e virou uma tradição do bairro.

“Isso aqui é meu orgulho e gratidão ao seu Quincas que começou essa festa popular”, conta Ana Paula Holles, moradora e uma das responsáveis por manter o evento de pé. Ela é autora do projeto Manifestações Culturais Populares: A Malhação de Judas no Bairro da Cremação, onde defende a importância da preservação dessa cultura de rua.

Tradição importada

Segundo o historiador Brasilino Assaid Sfair da Costa, a Malhação de Judas é uma prática trazida pelos portugueses ao Brasil durante o período colonial. Embora esteja presente em diversos países da América do Sul e da Europa, a celebração não faz parte da liturgia oficial da Igreja Católica e já chegou a ser considerada um ato de baderna.

“Ela quase desapareceu nas cidades, mas resistiu nas periferias. Em Belém, a Cremação é um dos poucos lugares que mantiveram essa tradição viva por mais de 70 anos”, destacou o historiador.

Com o feriadão estendido — que inclui Sexta-feira da Paixão, Sábado de Aleluia, Domingo de Páscoa e o Dia de Tiradentes — a expectativa é de que o evento reúna um grande público.