Publicado em 8 de fevereiro de 2025 às 17:03
Lázaro Moraes (Especial para o Portal Roma News)>
O governo do Estado vem trabalhando com afinco para que Belém promova com sucesso a COP-30 – o maior evento mundial sobre mudanças climáticas -, que será realizado na capital paraense de 10 a 21 de novembro de 2025. A cidade virou um canteiro de obras, tocadas tanto pelo governo do Estado quanto pela Prefeitura de Belém, para que tudo esteja a contento para o evento. Hoje estão em execução aproximadamente 30 obras estruturantes nos eixos de saneamento, mobilidade e desenvolvimento urbano, com recursos do Tesouro do Estado, Itaipu Binacional e BNDES, totalizando R$ 4 bilhões em investimentos. Além das obras que estão sendo executadas, uma delas chama a atenção pela suntuosidade e pelo que irá representar como legado para Belém: o Parque da Cidade, que está sendo construído na avenida Júlio César, onde funcionava o antigo Aeroclube do Pará.
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A vice-governadora do Estado, Hana Ghassan, que está coordenando a COP-30, falou com exclusividade ao Portal Roma News sobre o evento e, particularmente, sobre o Parque da Cidade, um presente para Belém por ocasião dos seus 409 anos.>
Segundo Hana Ghassan, Belém passa por um processo de modernização para sediar a COP-30, uma vez que espera receber mais de 50 mil participantes durante as duas semanas do evento. Para garantir o sucesso da COP-30, ela enfatiza que toda a organização está sendo alinhada com a UNFCCC (Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima), atendendo aos interesses da Organização e do Brasil. “E o governo do Pará trabalha em conjunto com os governos federal e municipal e também com a iniciativa privada para preparar Belém para receber a COP-30”, destaca.>
As obras do Parque da Cidade têm duas vertentes: uma, as obras físicas em si do Parque tocadas pelo governo do Estado; e a outra, por parte do governo federal, referente à coordenação do evento COP-30, que irá preparar o espaço físico recebido do Estado e fazer as adaptações que julgar necessárias para viabilizar a realização da conferência.>
Com relação às obras que estão sendo executadas, o governo do Estado deverá concluir e entregar 60% do total de obras físicas do empreendimento para que a COP-30 seja realizada pelo governo federal em novembro de 2025, devendo concluir os 40% restantes das obras somente após o evento. Do montante das obras que o Estado entregará ao governo federal para o evento, 74% já estão concluídas. No entanto, a construção deverá ser paralisada num determinado momento, especialmente as obras próximas ao Hangar, para que o governo federal assuma e faça a tempo as adaptações necessárias para a realização da conferência. O arquiteto e urbanista João Uchôa, da Ciclo Arquitetura, responsável pela realização do Rock in Rio e conhecido mundialmente, é o consultor do governo do Estado que vem acompanhando os trabalhos como representante da COP-30, em parceria com o governo federal.>
As conferências irão ocorrer no complexo Hangar & Centro de Convenções da Amazônia e no Parque da Cidade, verdadeiramente um dos principais projetos do governo do Estado para a COP-30. A vice-governadora Hana Ghassan destaca a suntuosidade do investimento, situado numa área de 500 mil metros quadrados. “O projeto inclui um Museu da Aviação, um Centro de Economia Criativa, um Boulevard Gastronômico, ciclotrilha, ecotrilha, áreas verdes, um lago artificial e instalações esportivas”, enumera.>
No caso específico da COP-30, a vice-governadora chama atenção para a organização do evento, uma vez que o Parque contará com uma Blue Zone (zona azul) e uma Green Zone (zona verde). “Estas duas zonas receberão plenárias e reuniões bilaterais focadas em discussões vitais para a manutenção climática e acordos internacionais. A infraestrutura será projetada para atender tanto eventos de grande porte quanto atividades locais menores, garantindo a funcionalidade e versatilidade do espaço”, explica.>
As obras do Parque da Cidade são financiadas pelo Programa Estrutura Pará, regulamentado pelo Decreto nº 3.219/2023, que permite a utilização de até 50% dos recursos da Taxa Mineral paga por empresas de mineração no Estado. A adesão ao programa, diz Hana, “é de forma voluntária e o financiamento cobre projetos nas áreas de transporte, saneamento básico, saúde, educação e segurança pública”. A Vale, por exemplo, diz ela, “assinou um termo de compromisso com o Estado do Pará para a execução deste projeto”.>
Hana Ghassan faz questão de ressaltar a importância do investimento para os moradores de Belém porque “o Parque da Cidade será um local de encontro, reforçando a conexão da cidade com a natureza e a cultura local”. E acrescenta: “Além de sediar eventos globais, como a COP- 30, o Parque oferecerá um espaço flexível para uma ampla variedade de eventos, desde conferências internacionais e exposições educacionais até festivais culturais e atividades recreativas”.>
O Parque da Cidade, portanto, é uma área que está sendo construída visando “promover lazer, cultura, arte e bem-estar, transformando-se num legado duradouro da COP para a cidade de Belém”, ressalta a coordenadora da COP-30.>
A ideia de se construir um Parque onde antigamente se localizava o Aeroclube de Pará foi do engenheiro Nelson Chaves, ex-vereador, ex-deputado estadual e ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE), hoje aposentado, que por volta de 1989 sonhava com a construção de um parque em Belém nos moldes do Ibirapuera, de São Paulo, agregando maior área verde e de lazer para a população local. Mas para que o sonho se tornasse realidade, o caminho foi longo.>
Começou com reuniões com autoridades locais da Aeronáutica na tentativa de conseguir a cessão da área visando à construção do Parque, que inicialmente ele propunha chamar-se “Parque de Belém”. Em 1990, quando ainda era presidente da Câmara de Vereadores de Belém, na gestão do ex-prefeito Sahid Xerfan, chegou a solicitar que a Prefeitura intercedesse junto ao 1º Comando Aéreo Regional para que o Aeroporto Júlio César (que operava táxis aéreos), pertencente ao Aeroclube do Pará, fosse transferido para um local mais adequado.>
“Além da localização inadequada, outra argumentação é que Belém, como quase todas as nossas cidades, cada vez mais carece de áreas verdes. Essa área seria um novo pulmão para a cidade, medindo aproximadamente 60 hectares. Qual capital ainda dispõe de uma área que pode ser arborizada com todas as vantagens?”, questionou Nelson Chaves, em reportagem publicada no jornal O Liberal em 23 de junho de 2019. Nelson Chaves também utilizava como argumento o perigo que um aeroporto localizado em área urbana representava para a população.>
Não somente pela ideia em si, que seria benéfica para Belém, mas Nelson Chaves falava com autoridade sobre o assunto por ser engenheiro, professor do curso de Engenharia da UFPA e ter dirigido o antigo DNOS (Departamento Nacional de Obras de Saneamento). Na época, tal qual um visionário, ele planejava novos espaços visando ao crescimento da cidade, inclusive para o local onde funcionava o antigo presídio São José, na Praça Amazonas, que mais tarde viria a se tornar o Polo Joalheiro.>
A via-crúcis de Nelson Chaves também incluiu viagens a Brasília, onde buscou apoio de autoridades do governo federal, culminando com a adesão dos próprios moradores de Belém e da imprensa local, que também encampou a ideia, até que finalmente o projeto foi abraçado pelo governador Helder Barbalho.>
Foram inúmeras as matérias publicadas nos jornais O Liberal, Diário do Pará e Província do Pará sobre o tema. A ideia era seguir o exemplo de São Paulo, que nos 400 anos da cidade inaugurou o Parque do Ibirapuera, e da mesma forma criar-se um parque semelhante para os 400 anos de Belém, completados em 2016, vindo a tornar-se assim a primeira grande área verde superior ao Bosque Rodrigues Alves e Parque do Utinga.>
Depois de tantas batalhas, Nelson Chaves conseguiu uma vitória: o governador Helder Barbalho reuniu-se em junho de 2019, em Brasília, com a presidente da Infraero, Martha Seillier, e o diretor de Negócios Comerciais, Thiago Pereira Pedroso, ocasião em que destacou a necessidade da liberação da área para sua integração ao planejamento de crescimento urbano, passando-se as operações do Aeroclube para o Aeroporto Internacional de Val-de-Cans, também na capital. “A localização deste aeroporto é em área extremamente nobre, sensível à redefinição urbana da capital”, justificou Helder Barbalho, governador do Estado no seu primeiro mandato.>
Em 7 de julho de 2019, o Portal Roma News, recém-fundado, noticiava que o governo do Estado havia recebido sinalização positiva do Ministério da Infraestrutura para a cessão da área onde funcionava o Aeroclube do Pará. Na época, Helder lançou consulta pública sobre o projeto arquitetônico do novo empreendimento, depois de 30 anos que a ideia inicial do projeto foi lançada por Nelson Chaves. E no dia 13 de dezembro de 2019, foi lançado o edital para seleção do projeto arquitetônico da obra, numa área de 93 hectares, o equivalente a 20 campos de futebol.>
Durante o lançamento do edital, o governador Helder Barbalho pontuou: “Não temos o direito de pensar pequeno. Estamos diante de mais uma oportunidade de criar um novo cartão de visita, um portal de entrada para quem quer aqui estar... É um presente para nossa cidade, um projeto sonhado e desejado por todos nós, também por conta da nossa enorme carência de áreas de lazer na cidade”, disse o governador na solenidade de lançamento do edital.>
Diante do resultado obtido, após mais de 30 anos de luta, Nelson Chaves comemorou a vitória: “Foi uma proposta modesta, pequena. Ela só se tornou grande pelo apoio que a sociedade, de todas as direções, deu a ela. As instituições públicas, as entidades privadas, a sociedade, a imprensa. A todos que me ajudaram, tenho muito a agradecer”, destacou o mentor da ideia, em matéria publicada na imprensa em 12 de janeiro de 2020, data do aniversário de 404 aos de Belém.>
A escolha dos projetos paisagístico e arquitetônico foi feita mediante votação on-line, em que a própria população escolheu os equipamentos que queria no Parque da Cidade. A consulta pública ficou aberta até 31 de janeiro de 2020, disponível no site parquedacidade.com e no aplicativo criado para este fim. Cada pessoa poderia escolher até três equipamentos por área. O certame contou com três etapas: a primeira para escolha dos equipamentos; a segunda, de caráter técnico, com uma equipe de jurados formada por arquitetos e urbanistas do Pará e de outros Estados, que analisou os 85 projetos inscritos. E a terceira fase ocorreu entre os dias 20 de julho e 5 de agosto, na qual prevaleceu a escolha do público entre dois finalistas. O Projeto vencedor, Parque Para Todos, teve 1.750 votos; e o segundo colocado, “Onde a Cultura se Fortalece”, obteve 1.511 votos.>
O projeto Parque para Todos teve como autores os arquitetos e urbanistas Carlos Eduardo Murgel Muller, Marcos Bresser Pereira Epperlein, Thiago Santana Maurelio, Eduardo Saguas Muller, Guilherme Henrique Machado Faganello e Vitor Martina (estudante). A equipe foi composta por duas empresas de São Paulo, a Firma Arquitetura e a Dezembro Arquitetos.>
A partir daí, o governador Helder Barbalho manteve outras reuniões com a direção da Infraero para discutir sobre a transferência das atividades do Aeroclube. No dia 11 de novembro de 2020, em Belém, na presença do ministro Tarcísio de Freitas, hoje governador de São Paulo, o governador Helder Barbalho firmou o acordo que previa o repasse de recursos para a realização das adaptações no Aeroporto de Val-de-Cans com o objetivo de viabilizar a transferência do Aeroclube (Aeroporto Protásio Lopes). Durante a solenidade, o governador fez questão de homenagear Nelson Chaves enfatizando que a ideia de construção do parque tinha sido dele. E finalmente, depois de tantas idas e vindas, e mudanças no governo federal, o Aeroclube foi transferido e, em 19 de maio de 2020, foi assinada a ordem de serviço para o início das obras.>
Na opinião de Nelson Chaves, agora vendo seu sonho se materializar, o momento é de gratidão. “Agradecerei, sempre e sempre, o magnífico apoio que recebi da imprensa, sem a qual certamente minha proposta não se concretizaria, a ponto de sensibilizar o governador Helder para torna-la realidade. Sem dúvida, sua atitude merece todos os elogios pela coragem em dotar Belém de um magnífico logradouro”, agradeceu.>
Desde que as obras do Parque da Cidade iniciaram, a vice-governadora Hana Ghassan vem acompanhando os trabalhos e se dedicando à COP-30, um grande evento que marcará uma nova fase na vida do cidadão de Belém. E como forma de homenagear o mentor da ideia do Parque, ela convidou no ano passado o engenheiro Nelson Chaves para fazer o plantio de uma muda de “pau preto” no Parque. Hoje, as obras seguem a todo vapor e a população de Belém mal pode esperar para conhecer o seu mais novo espaço de lazer e cultura, talvez o maior empreendimento estatal no Pará nos últimos tempos.>