Publicado em 26 de junho de 2024 às 09:58
Uma das principais tradições culturais do Pará e um dos mais importantes festivais de ópera do país abre sua 22ª edição às 20h desta terça-feira, 9. O Festival de Ópera do Theatro da Paz, que leva o nome da primeira casa de espetáculos construída na Amazônia, vem se consolidando como o segundo antigo da América Latina e é destaque na cena lírica nacional e internacional, oriundo de uma história viva e herdeira dos tempos áureos da Belle Époque, do trabalho árduo e de políticas públicas sensíveis e persistentes. Para celebrar a abertura da programação, quem se apresenta é a Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP) e do coro infantil da Fundação Amazônica de Música (FAM).>
Partindo do princípio de que a cultura deve ser acessível a todos, sem distinção, o Festival de Ópera do Theatro da Paz vem ao longo de mais de duas décadas democratizando o acesso à programação e estabelecendo forte conexão com diversos públicos, independentemente de formação ou de condições socioeconômicas. O evento cultural, atualmente, gera cerca de mil postos de trabalho a cada ano, fortalecendo assim a indústria da ópera e movimentando o setor de serviços e turismo, que impacta desde empresas especializadas em técnica de som e iluminação até restaurantes, lanchonetes, bares e o setor de hotelaria.>
Com diversas novidades, a nova temporada está orçada em aproximadamente R$ 1,7 milhão, e se constitui hoje em três frentes distintas: a frente artística, com as óperas, recitais e concertos; a frente pedagógica com o projeto 'Academia de Ópera' que oferece uma formação continuada para cantores líricos paraenses e a frente social com o projeto 'Sons de Liberdade', criado por meio de parceria entre a Secretaria de Estado de Cultura (SECULT) e da Secretaria de Administração Penitenciária (SEAP), com objetivo de capacitar custodiadas e custodiados para futura reinserção no mercado de trabalho, por meio da cadeia produtiva da ópera.>
Por meio do Sons de Liberdade, são realizadas oficinas de capacitação voltadas às artes performáticas, como cenotécnica, figurino e visagismo, ministradas por profissionais que atuam no Festival de Ópera do Theatro da Paz, consolidando o Da Paz como um teatro escola, uma alternativa para o fomento de uma cultura de paz, que leva arte, profissionalização e auxilia no desenvolvimento de habilidades sociais imprescindíveis ao convívio em uma sociedade que cada vez mais estimula o êxito individual.>
'Nosso Festival de Ópera do Theatro da Paz implementou, ao longo dos últimos anos, processos hoje já consolidados de formação profissional e inclusão social. E esse perfil é um dos mais importantes diferenciais desta política pública de acesso à cidadania cultural. As récitas, galas líricas e concertos são sempre lotados e, da plateia aos bastidores, nos deparamos com histórias de vida que se transformam por meio do contato com a arte e com os fazeres artísticos. A cultura sempre será uma importante ferramenta de transformação social. E a ópera, pela dimensão de sua estrutura produtiva, alcança impactos de grande escala. Sabemos que este é um caminho seguro, estratégico e inovador para a geração de emprego e renda, para a valorização de nossos talentos e para a formação de cidadãos conscientes de sua história e de seu papel na construção de uma sociedade mais justa e feliz', frisou a titular da Secult, Ursula Vidal.>
A Ópera 'O Auto da Compadecida'>
A primeira apresentação acontece nos dias 23 e 24 de maio e será a ópera bufa 'Auto da Compadecida', de Tim Rescala. A obra é baseada na peça homônima de Ariano Suassuna, e o texto foi adaptado pelo próprio Rescala, ao lado do maestro Rodrigo Toffollo, diretor artístico e regente titular da Orquestra Ouro Preto. O 'Auto da Compadecida' é de 1955 e criou figuras que se tornaram marcantes na história do teatro brasileiro: João Grilo e Chicó, duas pobres almas sábias que jogam com as desvirtudes dos demais personagens; o padeiro e sua mulher, avaros, ciosos de um frágil status social; o Padre e o Bispo, interesseiros, racistas, desonestos e o cangaceiro Severino. Todos, com exceção de Chicó, acabam mortos, são julgados por Jesus e o Encourado, e defendidos por Nossa Senhora.>
De acordo com Daniel Araújo, diretor do Theatro da Paz, o festival deste ano vai seguir em duas direções. 'Uma direção é confirmar nossas relações com teatros já parceiros, como o Teatro Amazonas, por meio do Corredor Lírico do Norte, e com Minas Gerais, por meio do Palácio das Artes e da Orquestra de Ouro Preto. A outra direção é a inclusão de óperas contemporâneas: 'O Menino Maluquinho', do Amazonas e 'O Auto da Compadecida', produzida por Minas Gerais', explicou o diretor.>
Alinhado aos debates globais, o Festival vem se transformando em um ecofestival, se engajando em defesa da sustentabilidade. Em 2023, com o tema 'Vozes ecoando Amazônia', avançou ainda mais nessa ideia com a preparação de toda a cadeia produtiva da ópera para receber o maior evento climático do mundo - a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30) - que acontecerá em 2025, e tem Belém como cidade candidata a sede.>