Por que acreditamos apenas no que nos convém?

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É uma manhã de domingo e você está em frente a mesa tomando café da manhã. Por alguma razão você acordou cedo neste dia, porque de fato, não precisava. Algum parente está lá de visita e diz de maneira conclusiva que chá verde faz bem para saúde do intestino e do fígado, já que ele toma todo dia e que por isso nunca teve problemas com seus órgãos. O parente é aquela pessoa do tipo “natureba”, que curte receitinhas naturais de todo o tipo. Já era de se esperar que ele fizesse uma afirmação parecida, pois em toda reunião de família ele insiste em jogar informações sobre ervas e produtos naturais. Como você é sacana, disse logo: E quem te disse isso?!

Você acaba de provocar uma pessoa convicta. Seu parente começa a jogar todo tipo de relato pessoal e informações de pessoas que ele conhece, que de fato, nunca tiveram problemas no intestino ou no fígado. Depois afirma que há muito tempo isso é conhecido pela ciência. Só que este parente tinha se esquecido que você é um médico pesquisador e seu objeto de estudo é justamente a influência das ervas medicinais sobre o corpo humano. Você sabia que não havia nenhuma prova que esses chás tinham algum benefício nos órgãos citados pelo parente. Não importa, nada do que você argumentasse faria este parente mudar de ideia, nem lógica, nem pesquisas, nem a autoridade da sua profissão, porque o parente sofria muito do viés de confirmação.

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O viés de confirmação ou viés confirmatório é uma tendência que nós temos de acreditar apenas no que nos convém. Ignoramos completamente coisas que vão contra nossas crenças. É um viés cognitivo que leva a desvios de racionalidade e lógica. Então iremos só nos lembrar, interpretar ou pesquisar informações que buscam confirmar as nossas crenças pessoais iniciais. O exemplo acima é de uma pessoa muito ligada a cultura “natureba”, então ela vai confirmar só coisas que favorecem o seu ponto de vista das “ervas acima de tudo”. Este viés pode ocorrer para qualquer coisa, seja política, religião ou ciência. A pessoa vai tender a confirmar as ideias da “bolha” de informações dela e irá ignorar outras informações.

Esse viés cognitivo pode nos fazer acreditar mais facilmente em notícias falsas (fake news), pode nos tornar mais intolerantes, nos fazer cometer erros, e assim vai limitando a nossa visão de mundo. Segundo alguns autores um viés cognitivo pode ser entendido como um erro de raciocínio causado por estratégias mentais de simplificação, geradas no esforço de processar informações. É um fenômeno natural e intuitivo que leva a equívocos em análises. Então, o que podemos fazer para evitar esse viés cognitivo?!

Como evitar o viés de confirmação

Não é tão simples. A primeira coisa que podemos fazer para evitar o viés de confirmação é conhecê-lo, isso ajuda em parte, pois é natural que tenhamos vieses. Desenvolva um maior senso analítico. Se agora você já sabe que sua mente trabalha para confirmar as suas crenças a todo custo, pense duas vezes antes de ficar confirmando tudo que já sabe. Evite ignorar novas informações contrárias as suas, procure analisá-las de maneira racional. A lógica e a ciência são muito úteis para combater esse viés, pois ajudam a trabalhar a razão e o processo de autocorreção a partir de novas evidências.

Por fim, todos temos experiências e conhecimentos prévios do mundo que nos rodeia, abraçamos nossa visão inicial porque achamos que ela é mais correta e mais adequada, mas que ego do nosso cérebro hein?! Na verdade, é a situação mais conveniente para nós. Há muita informação vestida de “verdade”, se estamos muito ligados a essas informações, tendemos a voltar toda a nossa atenção apenas a isso (como no exemplo do parente das ervas acima). Experimente observar com cuidado e paciência ideias opostas as suas. Procure ajuda especializada, fontes confiáveis e quem entende de um assunto específico como professores e cientistas. Busque educar-se.

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