Publicado em 7 de novembro de 2024 às 11:42
O bitcoin operava em forte alta e renovou máxima histórica na última quarta-feira, 6, acima dos US$ 75 mil, após Donald Trump vencer as eleições presidenciais dos Estados Unidos e o Partido Republicano conquistar a maior bancada do Senado e se aproximar da maioria na Câmara. Outras moedas digitais também registraram valorizações expressivas nas primeiras horas após o anúncio de quem foi o eleito. >
O bitcoin subia 7,61% nas últimas 24 horas até 16h15, a US$ 75 302,60, segundo a Binance. Na máxima em 24 horas, a criptomoeda tocou US$ 75.407,10. O ethereum, por sua vez, tinha ganhos de 9%, a US$ 2.669,50 no mesmo intervalo.>
A vitória de Trump teve impacto amplamente positivo nos preços das criptomoedas e de ações correlatas hoje, na medida em que o republicano passou a ser visto como defensor do segmento durante a campanha eleitoral. Agora investidores esperam que incertezas regulatórias setoriais possam ser superadas, impulsionando os ativos de forma sustentada.>
Especialistas explicam que a alta das criptos está relacionada à expectativa de que Trump pare um processo fortalecido no governo Biden de regulamentação este mercado.>
"Durante o governo Biden tivemos uma 'caça às bruxas', com regulação, controle, gente sendo presa. Isso, com o Trump, acaba caindo por terra. Então, existe uma percepção positiva para as criptos", diz o estrategista-chefe da Avenue, William Castro Alves.>
O analista da corretora de criptoativos Foxbit, Beto Fernandes, entende que a dinâmica recente também está relacionada com um aumento sustentado da demanda pelo ativo. Mas a volatilidade pode permanecer elevada conforme o Federal Reserve (Fed) divulga decisão de juros amanhã.>
Entusiasta do segmento, o head de Ativos Digitais da Empiricus Research, Valter Rabelo, chama o resultado das eleições dos Estados Unidos de “uma vitória monumental para o cripto”, devido também a composição de uma maioria republicana no Congresso do país. “É o cenário perfeito que poderíamos querer para esse final de ano.”>
Até onde vai a alta?>
O bitcoin não sustentou a alta e logo passou a operar em queda. O diretor de comunicação e especialista cripto do Bitybank, Israel Buzaym, explica que muitos investidores aproveitam os momentos de pico do ativo para vender e realizar lucros, inclusive gestores de fundos.>
“No longo prazo, o bitcoin deve continuar sua tendência de alta, sustentada por suas características de escassez e adoção crescente,” explica Buzaym. “A adoção institucional crescente e a melhoria do ambiente regulatório nos EUA posicionam os criptoativos para um 2025 muito positivo”, reforça o CIO da Hashdex, Samir Kerbage.>
A quebra da marca dos US$ 100 mil, no entanto, ainda pode demorar. “Acredito que o volume precisaria ser muito maior do que o atual, e, por isso, mantenho um certo ceticismo em relação a esse patamar ainda em 2024”, diz Buzaym.>
Os acenos de Trump aos criptoativos>
Donald Trump não teve sempre uma boa relação com os investidores de cripto. Em 2021, durante sua campanha presidencial anterior, o magnata chamou os ativos digitais de “golpe” e de “desastre esperando para acontecer” por “amenizarem a importância e o impacto do dólar”.>
Em 2024 sua posição mudou. “Ele percebeu essa brecha, ele é um marqueteiro político”, diz Buzaym. Em junho, horas após se reunir com mineradores de bitcoin, Trump foi a uma rede social e anunciou seu apoio aos criptoativos. Em outubro, dois dos filhos de Trump, Don Jr. e Eric, chegaram a lançar sua própria plataforma de criptoativos, a World Liberty Financial, com sua criptomoeda, denominada “WLFI”.>
Perdão a Ross Ulbricht>
Entre as promessas que Trump passou a encabeçar está o perdão presidencial para Ross William Ulbricht, criador do Silk Road, um marketplace que possibilitava o pagamento de vendas com bitcoin. Ulbricht, no entanto, acabou condenado a duas prisões perpétuas quando foi descoberto o enorme fluxo de artigos ilegais na plataforma, como drogas, pornografia infantil e armas.>
“A comunidade bitcoin é muito fã dele no sentido de que ele foi um dos primeiros caras que colocaram um e-commerce em bitcoin em funcionamento no mundo”, lembra Buzaym.>
Demissão de Gary Gensler>
Outra promessa de Trump foi a demissão de Gary Gensler, presidente da SEC, a Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos. “Ele foi aí um verdadeiro carrasco de cripto durante todo esse tempo”, lembra Rabelo. “Gensler fez várias intimações contra vários projetos e corretoras de cripto ao longo desses últimos meses.”>
Advogada do escritório Benício Advogados, Marcela Zanetti atribui o grande número de processos a uma pressão do governo Biden. “Principalmente após o colapso da FTX em novembro de 2022, que representou o maior choque ocorrido no mercado de criptomoedas até então, o governo Biden iniciou maior controle sobre o setor”, diz.>
A demissão do presidente da SEC não é atribuição do presidente do país. No entanto, alguns analistas apostam que ele mesmo possa se demitir com a vitória de Trump.>
Regulamentação>
Trump pretende derrubar regras vigentes, como a SAB-121, que impede que bancos atuem como custodiantes de cripto. “No momento, só se consegue fazer custódia nos Estados Unidos por meio de corretoras. Os ETFs de bitcoin, por exemplo, a custódia é feita com a Coinbase”, explica Rabelo.>
Outro ponto na mira do republicano seria a aprovação de uma lei anti-moeda digital de banco central (anti-CBDC na sigla em inglês). Na visão de Buzaym, ativos do tipo “dariam o controle absoluto ao Estado sobre o dinheiro das pessoas”.>
Que regulamentação é necessária?>
Os especialistas mencionam que alguma regulamentação é necessária para os criptoativos.>
“É possível utilizar as criptomoedas para movimentações de recursos sem se sujeitar aos meios oficiais para fiscalização monetária, o que dificulta um maior controle governamental sobre esses ativos e facilita seu uso para fins ilícitos”, explica Marcela Zanetti, do Benício Advogados.>
“Criptoativos precisam hoje de uma regulamentação que ateste e assegure o uso legal dela em seu país, como meio de pagamentos e meios de aplicações financeiras para investimentos”, defende o Community Manager da ICP HUB Brasil, Fernando Debussy. “Quanto mais evoluir este aspecto, mais fácil será a adoção dos ativos na sociedade.”>