Economia circular: desafios e oportunidades para a indústria brasileira

Diferentes tipos de resíduos, como roupas, sucata de metal e eletrônicos obsoletos, são reintegrados ou utilizados de forma mais eficiente.

Publicado em 31 de agosto de 2024 às 14:54

(Ciclo Economia Solidária)
(Ciclo Economia Solidária) Crédito: Agência Gov

Economia circular é um conceito que associa o desenvolvimento socioeconômico e o bom uso de recursos naturais, priorizando insumos mais duráveis, recicláveis e renováveis. Ela está fortemente relacionada a uma maior sustentabilidade ambiental ao contribuir para a redução de resíduos e uma maior eficiência energética.

Por meio dela, busca-se estender a vida útil dos produtos e materiais a partir de iniciativas de reutilização, reciclagem e recuperação nos processos de produção, distribuição e consumo. Na indústria, isso implica em reduzir a quantidade de recursos e matérias-primas necessárias para fabricar o mesmo produto, mantendo o mesmo nível de qualidade. Desse modo, diferentes tipos de resíduos, como roupas, sucata de metal e eletrônicos obsoletos, são reintegrados ou utilizados de forma mais eficiente.

Os processos circulares podem ser agrupados em quatro categorias, da mais impactante para a de menor impacto:

1. Reduzir por meio do design: reduzir a quantidade de material utilizado, especialmente matéria-prima, deve ser aplicado como um princípio orientador geral desde as primeiras etapas de design de produtos e serviços.

2. Do ponto de vista da(o) usuária(o) para usuária(o): Recusar, Reduzir e Reutilizar.

3. Do ponto de vista intermediário da(o) usuária(o) para a empresa: Reparar, Recondicionar e Remanufaturar.

4. Do ponto de vista de empresa para empresa: Reaproveitar e Reciclar.

De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), manter os materiais por mais tempo na economia por meio de reutilização, reaproveitamento ou reciclagem poderia reduzir 33% das emissões de dióxido de carbono incorporadas nos produtos. O Brasil ainda precisa avançar mais nesse sentido: o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que, a cada ano, mais de R$ 8 bilhões em materiais vão para aterros e lixões em vez de serem reciclados.

Além de gerar impactos positivos ao meio ambiente, a adoção de um modelo de economia circular tem o potencial de gerar novas oportunidades para a indústria, o comércio e para a criação de empregos em diferentes setores. Para a indústria, as seguintes oportunidades podem ser destacadas, conforme indica a OCDE:

• Redução dos custos dos materiais;

• Fortalecimento da cadeia de valor e dos parques industriais;

• Diferenciação de mercados;

• Regularização de trabalho informal e geração de novos empregos;

• Incentivo à pesquisa sobre matérias primas mais seguras, renováveis e atóxicas;

• Criação de negócios com estratégias de manutenção de valor e resilientes;

• Redução do uso de recursos primários por meio da recuperação de recursos e/ou do design.

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Desafios

Entre os desafios pontuais a serem superados, cabe destacar as limitações de infraestrutura, a falta de incentivos e a perda de valor no descarte inadequado de resíduos. Para a Indústria, um grande desafio é que empresas desenvolvam novos modelos de negócio que agreguem valor ao produto/serviço.

No Brasil, há inovações em modelos de negócios circulares nos formatos de Produto como serviço, Compartilhamento, Extensão da vida do produto, Insumos circulares, Recuperação de recursos e Virtualização. Há exemplos de indústrias em diversos segmentos da economia desenvolvendo uma série de ações de economia circular, como o design modular realizado pela Precon Engenharia; a escolha de matérias-primas mais seguras, renováveis e atóxicas adotada pela Tarkett e C&A; e a regularização do trabalho informal e a geração de novos empregos na Rede Asta. Mas ainda é necessário superar os desafios existentes para que seja possível ocorrer uma transição do modelo econômico atual para um mais sustentável e circular.

Para que a economia circular ganhe escala e realize todo o seu potencial ambiental e socioeconômico no país, é necessário criar as condições facilitadoras necessárias, como educação para desenvolvimento de competências, políticas públicas específicas, infraestrutura voltada à circularidade e tecnologias inovadoras. A colaboração entre diferentes atores-chave é importante, e as empresas podem assumir um papel mais ativo e liderar ações nesse sentido. Em especial, as Micro e Pequenas Empresas (MPEs) necessitam de apoio para que possam acompanhar a transição para o modelo circular.

As seguintes linhas de atuação se destacam para fortalecer a economia circular no Brasil:

Políticas públicas

• Tratamento fiscal e regulamentação adequadas;

• Compras públicas sustentáveis; e

• Geração de empregos de qualidade.

Educação

• Campanhas educativas amplas; e

• Capacitação profissional.

Pesquisa, desenvolvimento e inovação (PD&I)

• Inovação em design de produtos, serviços e processos;

• Desenvolvimento de métricas de circularidade; e

• Parceria entre setor privado e academia.

Financiamento

• Orientação para acesso a recursos e elaboração de projetos; e

• Ampliação das linhas de financiamento para economia circular.

Mercado (ambiente de negócios)

• Material em quantidade e qualidade para reciclagem;

• Cooperação em um ambiente competitivo; e

• Identidade da indústria brasileira como sustentável (circular).

Com Informações da Agência Gov