O que a crítica internacional já falou sobre 'Ainda Estou Aqui'

O longa de Walter Salles disputa os prêmios de Melhor Filme, Filme Internacional e Melhor Atriz, com Fernanda Torres.

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Publicado em 2 de março de 2025 às 10:33

Venda do livro Ainda Estou Aqui dispara depois de Globo de Ouro de Fernanda Torres.
Venda do livro Ainda Estou Aqui dispara depois de Globo de Ouro de Fernanda Torres. Crédito: Divulgação

A grande festa do cinema está chegando e o Brasil está na briga por três estatuetas do Oscar, todas com o filme Ainda Estou Aqui. O longa de Walter Salles disputa os prêmios de Melhor Filme, Filme Internacional e Melhor Atriz, com Fernanda Torres.

Ao longo do tempo, o filme, que estreou no Festival de Veneza, em 2024, e recebeu 10 minutos de aplausos, foi ganhando mais visibilidade, a ponto de alcançar 97% de aprovação da crítica especializada no Rotten Tomatoes. O sucesso levou também a uma repercussão na crítica internacional, que tem sido positiva com algumas exceções.

Veja o que já foi dito sobre ‘Ainda Estou Aqui’ na imprensa internacional

Após sua estreia em Veneza, o filme foi amplamente elogiado pela imprensa internacional. O portal Deadline chamou o longa de "carta de amor de Walter Salles ao Brasil". "O primeiro longa dramático de Walter Salles em 12 anos é, em última análise, uma celebração do Brasil", diz um trecho da crítica, que também destacou a atuação de Fernanda Torres. O texto previa que a atriz poderia ser indicada a prêmios de atuação, como aconteceu

Já o jornal britânico The Guardian enfatizou a importância do filme para a história brasileira, destacando também a performance de Torres, chamada de "maravilhosa". "Não é culpa de Torres que o drama perca um pouco de sua forma e velocidade na segunda metade, porque é difícil sustentar o suspense em torno de uma ausência e difícil contar uma história que não tenha uma resolução decisiva", considerou o jornal.

A revista Variety avaliou o filme como "profundamente comovente" e deu destaque à fotografia de Adrian Teijido, que "dá a todo o filme a textura de uma história que não está sendo contada, mas lembrada", além da trilha sonora com músicas de Caetano Veloso, Gilberto Gil e Warren Ellis.

O portal IndieWire avaliou que Ainda Estou Aqui é uma "homenagem tocante a uma família abandonada". Salles, de acordo com o portal, conseguiu fazer "a violência lentamente se infiltrar" na rotina da família Paiva, com diálogos interrompidos por helicópteros e caminhões com soldados destruindo a rua ao fundo da casa dos protagonistas.

‘Performance de notável força discreta, capturando a vontade de ferro de Eunice Paiva’

Foi assim que a BBC analisou a atuação de Fernanda Torres, em dezembro, quando o filme ainda não tinha sido indicado a nenhuma das premiações. O veículo destacou que a atriz tem uma "performance de notável força discreta, capturando a vontade de ferro de Eunice Paiva enquanto ela luta para sustentar sua família e descobrir o destino de seu marido". Também elogiou o diretor, dizendo que Salles "nos faz sentir a tensão e o medo do sequestro e dos dias seguintes" e que "poucos filmes criam uma representação tão singular dos efeitos de longo prazo de tais tragédias sobre aqueles que ficam para trás".

‘Ícone global’

A participação de Fernanda Torres na campanha de promoção do filme nos Estados Unidos rendeu à atriz o título de "ícone global", pela Vanity Fair. A revista destacou a "performance reveladora" de Torres enquanto fez um retrospecto da carreira da herdeira de Fernanda Montenegro. A publicação lembrou que ela ganhou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Cannes, com Eu Sei que Vou Te Amar, filme de Arnaldo Jabor lançado em 1986.Além disso, apontou, na época, que Ainda Estou Aqui era um forte concorrente ao Oscar de Melhor Longa Internacional, o que quebraria um jejum de 26 anos do Brasil na categoria. Leia o que a Vanity Fair falou sobre Fernanda Torres e Ainda Estou Aqui.

Enquanto a atriz e o filme ainda não estavam na disputa do Globo de Ouro, que aconteceu no início de janeiro, a revista Variety divulgou apostas para a premiação, ainda em dezembro. A publicação apostou que Fernanda Torres e ‘Ainda Estou Aqui’ estariam na disputa, o que acabou acontecendo.

‘Febre cinematográfica’

Em dezembro, numa matéria intitulada "Sucesso de bilheteria no Brasil gera expectativas de Oscar - e de um acerto de contas", o The New York Times apontou Torres como uma potencial candidata ao Oscar de melhor atriz. A reportagem destaca as figuras de Fernanda Torres e Fernanda Montenegro, relembrando a indicação da mãe ao Oscar por Central do Brasil em 1999.

"Ela [Montenegro] perdeu para Gwyneth Paltrow, e o Brasil nunca superou o que muitos consideram uma injustiça", destaca o texto. Eles ainda diziam acreditar que o longa certamente seria indicado na categoria filme internacional, mas que a indicação de Torres seria incerta.

"Torres chama a atenção de Hollywood como uma potencial candidata à disputa da cobiçada estatueta dourada, graças a um papel que provocou uma febre cinematográfica - e um acerto de contas - no maior país da América Latina", diz a matéria. O New York Times ainda cita a indicação como melhor atriz no Globo de Ouro, e a postagem que o perfil oficial da Academia, que organiza o Oscar, fez com uma foto de Fernanda Torres, que chegou a 820 mil comentários. Leia o que disse o NYT sobre o filme e sobre a atriz ainda em dezembro.

Um pouco antes das indicações ao Oscar chegarem, a Variety voltou a fazer apostas. De acordo com o veículo, Ainda Estou Aqui estaria nas três categorias que, afinal, acabou concorrendo

‘Olhar magnético’

Ainda em janeiro, The New York Times publicou uma crítica bastante elogiosa ao filme. No texto, a jornalista e crítica Alissa Wilkinson destacou a atuação de Fernanda Torres e definiu o longa como "habilidosamente elaborado e ricamente filmado" e "belo e devastador".

"Torres compõe sua performance com inúmeras emoções - alegria no meio do medo, esperança em meio à dor -, e seus olhos inquisitivos são magnéticos", escreveu Alissa. "Este não é apenas um filme sobre uma mulher forte, embora também seja isso. É também sobre o que os regimes autoritários fazem para manter as pessoas na linha."

‘Monocórdica’

Mesmo depois da vitória da atriz no Globo de Ouro, o Le Monde fez uma crítica negativa ao filme, o que causou uma mobilização de brasileiros nas redes sociais do veículo. O crítico Jacques Mandelbaum dedicou uma página da edição do tradicional jornal francês para sua crítica. Para ele, a atuação de Fernanda Torres é "um tanto monocórdica."

Mandelbaum não gostou da "concentração melodramática" em Eunice Paiva, que fez o filme "passar com um traço leve demais pela compreensão do mecanismo totalitário". O jornal avaliou o filme com uma estrela, em uma escala que vai até quatro.

Três categorias

No final de janeiro, quando o filme recebeu as três indicações às quais concorre, a Variety achou algumas delas surpreendentes. Apesar de

O The New York Times destacou como a conquista de Fernanda Torres no Globo de Ouro pode ter alavancado as indicações do filme. "Será que Ainda Estou Aqui teria tido um desempenho tão bom - recebendo indicações para filme, filme internacional e atriz principal - se Torres não tivesse ganhado um Globo de Ouro de melhor atriz em drama pouco antes do início do processo de votação do Oscar?", questionou.

O The Hollywood Reporter afirmou que a vitória de Torres no Globo de Ouro foi uma surpresa e que, apesar dela chegar ao Oscar novamente como a "azarona", seu "desempenho em Ainda Estou Aqui - como Eunice Paiva, a esposa que se tornou ativista de um político brasileiro ‘desaparecido’ durante a ditadura militar do país - foi universalmente elogiado." ter previsto Torres entre as indicadas, a revista classificou tanto a indicação da atriz, quanto a vaga do Brasil na categoria de melhor filme, como surpresas. A publicação destacou que, apesar da campanha pela indicação de Torres e da quase certa indicação a Melhor Filme Internacional, Ainda Estou Aqui "não foi amplamente previsto para ser indicado a melhor filme".

Fernanda Torres capa de renomadas revistas

A atriz foi capa da versão digital da revista americana The Hollywood Reporter, que publicou uma matéria sobre a brasileira com o título "Fernanda Torres já ganhou", na semana decisiva de votações para o Oscar. A reportagem destaca que Torres ainda não comemorou sua vitória no Globo de Ouro por conta dos incêndios em Los Angeles e a campanha intensiva para o prêmio concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas.

A atriz também foi capa da revista Cultured, publicação independente que fala sobre arte, moda, cinema e música. O texto destaca como Fernanda é famosa e querida no Brasil. "Ao longo do filme, Fernanda se transforma. De uma dona de casa serena, ela se torna uma advogada e ativista pelos direitos humanos", descreve a revista ao falar sobre o papel da atriz no filme. "A atuação sutil de Torres a alçou ao centro das atenções internacionais da indústria. Ela parece, ao mesmo tempo, estar pronta para este momento e ligeiramente surpresa com tamanha atenção recebida", diz a publicação.

O sucesso de Fernanda Torres fez outras publicações apostarem suas fichas nela. O The Washington Post fala que a vencedora do Oscar de Melhor Atriz pode estar escondida à vista de todos, dizendo que Torres pode estar chegando sem tanto destaque ou alarde ao prêmio.

‘Ainda Estou Aqui’ favorito ao Oscar

O The Guardian publicou uma resenha extremamente elogiosa sobre o longa apontando a obra de Salles como a favorita para o Oscar de Melhor Filme Internacional. "Ainda Estou Aqui está na disputa para Melhor Filme e Melhor Filme Internacional e, após o fiasco de Emilia Pérez, é o favorito na última categoria", diz o texto assinado por Wendy Ide, que também elogiou o trabalho de Torres, descrevendo-a como "fenomenal". "Ela mereceu a indicação à Melhor Atriz."

Em outro texto, assinado por Tom Phillips, o jornal defende que o longa leve o Oscar de Melhor Filme. No texto, Phillips afirma que a obra de Salles sobre a família Paiva retrata uma realidade sombria que encontra inúmeros paralelos com a situação política vivida pelo mundo em 2025. "Ainda Estou Aqui é um filme sobre os tempos cruéis e inquietantes que mais uma vez varrem o mundo. Se algum filme merece o Oscar de 2025, é este", pontua.

NYT aposta em ‘Ainda Estou Aqui’ e Fernanda Torres como vencedores

O jornal The New York Times divulgou suas previsões finais para o Oscar 2025 no final do mês de fevereiro e apostou em Ainda Estou Aqui vitorioso na categoria de Melhor Filme Internacional e Fernanda Torres como Melhor Atriz. Sobre a brasileira, o jornalista Kyle Buchanan explicou: "Vale a pena ser a última candidata que as pessoas assistem, e ela está recebendo muitos votos dos membros da Academia que só agora estão se familiarizando com seu filme. Com as coisas tão próximas entre [Demi] Moore e [Mikey] Madison, eu me pergunto se os eleitores não ficarão tentados a escolher Torres como uma terceira alternativa. Ainda assim, qualquer uma dessas mulheres pode vencer."

Para os analistas da Hollywood Reporter, o fato de Emilia Pérez ter perdido tração após as polêmicas de Gascón é um fator de influência para a vitória do longa de Salles como filme internacional, mas não menos que o fato de o próprio Ainda Estou Aqui ter começado a chamar mais atenção à medida que o público e os votantes americanos assistiram ao filme.

"O diretor Walter Salles fecha um ciclo com o retorno do Brasil depois de 16 anos de ausência", justifica Rooney. "Ao escalar Fernanda Torres como uma mulher que se recusa a ser despedaçada por uma perda devastadora e pela desumanidade, essa história emocionante, ambientada durante os anos da ditadura, faz uma conexão direta com Central do Brasil, que foi estrelado pela mãe de Torres, Fernanda Montenegro. Com a ascensão global do autoritarismo, o novo filme é um ‘grito do coração’ urgente."