Cardeal preso por corrupção desafia o Vaticano e diz que votará no conclave

Giovanni Angelo Becciu renunciou aos direitos ligados ao cardinalato em 2020, após ser alvo de um escândalo de corrupção. Lista do Vaticano afirma que o cardeal não é eleitor.

Publicado em 23 de abril de 2025 às 12:45

Giovanni Ângelo Becciu  renunciou aos direitos ligados ao cardinalato em 2020.
Giovanni Ângelo Becciu  renunciou aos direitos ligados ao cardinalato em 2020. Crédito: Reprodução 

O cardeal Giovanni Angelo Becciu, condenado à prisão por envolvimento em um escândalo de corrupção no Vaticano, afirmou que irá participar do Conclave mesmo com a Santa Sé tendo-o excluído da lista de eleitores. As declarações foram feitas ao jornal italiano "L'Unione Sarda", na terça-feira (22).

Becciu renunciou aos direitos ligados ao cardinalato em 2020, após ser alvo de uma investigação que apurou irregularidades na compra de um imóvel de luxo em Londres. Na ocasião, o Vaticano anunciou que o papa Francisco havia aceitado a renúncia.

Segundo as investigações, em 2014, há 11 anos, o Vaticano gastou mais de US$ 200 milhões na aquisição do imóvel. Parte do dinheiro utilizado deveria ter sido destinada a obras de caridade.

O acordo foi assinado por Becciu, que na época atuava como chefe de gabinete do papa. Além disso, o religioso também teria desviado recursos para a diocese de sua cidade natal, na Sardenha, beneficiando membros da própria família.

Condenado

Em dezembro de 2023, Becciu foi condenado a cinco anos e seis meses de prisão, além da inabilitação perpétua para cargos públicos, por peculato e abuso de poder. A decisão foi proferida pelo Tribunal do Vaticano. O religioso recorreu da decisão e continua em liberdade.

Ao "L'Unione Sarda", Becciu afirmou que já viajou a Roma e participará do Conclave para eleger o sucessor de Francisco. Segundo ele, seus direitos continuam válidos, já que foi convidado a participar de um Consistório sobre reformas no Vaticano em 2022, mesmo após ter renunciado.

"O papa reconheceu que minhas prerrogativas de cardeal permanecem intactas, já que não houve uma vontade explícita de me excluir do Conclave nem um pedido para minha renúncia explícita por escrito", disse.

Em 2022, o Vaticano confirmou que Becciu foi convidado por Francisco para participar do Consistório, mas esclareceu que os "direitos do cardinalato não se referem à participação na vida da Igreja".

Becciu também afirmou que a lista divulgada pelo Vaticano com os nomes dos cardeais aptos a participar do Conclave não tem valor legal e deveria ser desconsiderada.

Na lista divulgada, Becciu ainda aparece como um dos integrantes do Colégio de Cardeais, grupo formado por 252 religiosos de todo o mundo que ajudam na organização do Conclave e tomam decisões pela Igreja enquanto um novo papa não é eleito.

No entanto, a relação indica que Becciu não está entre os 135 cardeais com direito a voto no Conclave. Sendo assim, ele poderia participar da preparação da eleição, mas ficaria de fora da votação.

Becciu já foi considerado uma figura influente no Vaticano. Como conselheiro de Francisco, chegou a ser apontado como um possível sucessor. Em 2018, foi nomeado cardeal pelo próprio papa, mas perdeu espaço na Igreja após o escândalo vir à tona.

O religioso sempre negou as acusações e chegou a afirmar que Francisco havia perdido a fé nele.

Com informações do G1