Publicado em 2 de outubro de 2024 às 15:53
A seis dias da guerra entre Israel e o Hamas completar um ano, o Irã voltou a bombardear o território israelense. Apesar de estar a meio mundo de distância, o que acontece no Oriente Médio reflete no Brasil e no mercado internacional.
Olhando para o petróleo, a reação do mercado foi instantânea: a cotação do barril chegou a saltar 5% na terça-feira, 1.
Virginia Parente, economista e professora do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP) explica que “O petróleo é uma commodity global. Se tem uma guerra justamente na região de onde vem a maior parte da produção do mundo, ela fica menos disponível e o preço sobe”.
Em 2023, o Brasil foi o oitavo maior produtor da commodity no mundo, com 3,4 milhões de barris produzidos por dia e representando 3% da produção mundial, de acordo com dados compilados pelo Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP).
E a flutuação dos preços no exterior impacta especificamente nos negócios da principal empresa estatal do país: a Petrobras.
“No caso do Brasil, se o petróleo subir muito, pode subir os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. No governo Lula, o preço do barril aqui tem sido mais controlado”, pontua Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
“Pelo que o presidente fala, mesmo que subir lá fora o preço do petróleo, ele vai tentar segurar o máximo possível aqui. Mas se segurar muito, dá prejuízo para a Petrobras, se soltar impacta na inflação. Agora, temos que acompanhar o que vai acontecer em seguida no conflito”, conclui.
O temor por um conflito em larga escala entre Israel e seus vizinhos ainda é sondado no mercado. O próprio Banco Central (BC) sinaliza esta como uma de suas preocupações em relação à inflação.
O ex-diretor de Política Monetária do BC, Tony Volpon, relembra que em abril o Irã também realizou um ataque similar. A primeira reação do mercado também foi especular um pico na alta dos preços do petróleo, que logo se estabilizou.
Petróleo e inflação no Brasil
Apesar de a Petrobras ter aberto mão da política de paridade de preços internacionais, a estatal não pode segurar os preços praticados no Brasil muito abaixo do exterior. Caso contrário, sua receita seria menor em comparação com seus pares.
Mas caso os preços do petróleo produzido aqui no Brasil subam, os valores de seus derivados acompanham. Virginia Parente brinca que “o Brasil é movido a diesel” por conta de sua dependência do transporte rodoviário.
Por tanto, a consequência de uma alta nos combustíveis, terá um efeito cascata nos preços dos produtos que rodam o país.
Agronegócio
De janeiro a agosto deste ano, o Brasil exportou US$ 1,8 bilhão para o Irã. O país é o 29º maior comprador do Brasil, sendo a soja seu principal insumo, representa 38% de suas compras.
Apesar de não estar entre os principais parceiros brasileiros, a região onde se encontra é significativa para o agronegócio do país. O Oriente Médio representa 5,25% das exportações brasileiras, com cerca de US$ 12 bilhões neste ano.
Os principais produtos: açúcar, carne de frango e bovina e soja.A princípio, o efeito do conflito deve de fato se limitar ao petróleo. Mas seus desdobramentos ainda são acompanhados, uma vez que o impacto regional pode afetar o comércio no Oriente Médio.
Com informações da CNN Brasil