Publicado em 19 de fevereiro de 2025 às 15:41
O tenente-coronel e ex-ajudante de ordens do então presidente Jair Bolsonaro (PL), Mauro Cid, se queixou, em depoimento prestado ao Supremo Tribunal Federal (STF), de o aliado ter "se dado bem, ficado milionário", enquanto ele próprio "perdia tudo" e sua carreira estava "desabando".>
O ministro Alexandre de Moraes derrubou o sigilo das delações de Cid nesta quarta-feira (19), a Procuradoria-Geral da República (PGR) denunciar Bolsonaro e mais 33 pessoas por tentativa de golpe e outros crimes. No mesmo despacho, Moraes notificou os denunciados. Caso o STF aceite a denúncia, eles se tornarão réus numa ação penal.>
O depoimento de Cid, feito em 22 de março de 2024, foi motivado por uma reportagem da revista Veja intitulada "Em áudios exclusivos, Mauro Cid ataca Alexandre de Moraes e a PF: Enquanto suas informações ajudam a desnudar a tentativa de golpe militar e comprometem Bolsonaro, o tenente-coronel detona o ministro e a instituição". A publicação havia sido feita no dia anterior.>
À época, Moraes considerou que a conduta de Cid configurava crime de obstrução de Justiça e tornou a decretar a sua prisão preventiva, busca e apreensão em sua casa e nova oitiva para que o ex-ajudante de ordens esclarecesse as afirmações que constavam na reportagem.>
A respeito da afirmação, exposta na reportagem, de que Moraes tinha uma "sentença pronta", Cid respondeu se tratar de um desabafo e que acabou "falando besteira". Questionado sobre quem se referia ao dizer que "todos se deram bem, ficaram milionários", o tenente-coronel declarou que "estava falando do presidente Bolsonaro, que ganhou Pix", enquanto ele mesmo tinha "perdido tudo".>
"(Cid respondeu que) estava falando do presidente Bolsonaro, que ganhou Pix, aos generais que estão envolvidos na investigação e estão na reserva. E no caso próprio perdeu tudo. A carreira está desabando. Os amigos o tratam como um leproso, com medo de se prejudicar. Não é político, não é militar, quer ter a vida de volta. Está enclausurado. A imprensa sempre fica indo atrás. Está agoniado. Engordou mais de 10 quilos. O áudio é um desabafo Acredita que as pessoas deviam o estar apoiando e dando sustentação", diz um trecho da transcrição do depoimento.>
Bolsonaro recebeu R$ 17,1 milhões em suas contas por meio de transferências bancárias realizadas por Pix entre janeiro e julho de 2023, como mostrou o Estadão naquele ano. Uma possível explicação para os valores é a vaquinha promovida por seus apoiadores para pagar multas processuais - o "Pix" a que Cid se refere na delação.>
Na audiência, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro negou ter sofrido pressão do Judiciário ou da polícia para delatar o aliado - apesar de ter dito nos áudios que os policiais "queriam que eu falasse coisa que eu não sei, que não aconteceu". E afirmou que a decisão foi de livre e espontânea vontade, e que a conversa exposta na imprensa era "privada, informal, particular, sem o intuito de ser exposta em revista de grande circulação". Também declarou não se lembrar nem com quem tinha conversado nem a circunstância.>
O ex-ajudante de ordens também foi confrontado com a afirmação feita por ele de que "os bagrinhos estão pegando 17 anos (de prisão); os mais altos vão pegar quanto?", em referência à condenação dos bolsonaristas que depredaram os prédios dos Três Poderes em 8 de Janeiro. Cid respondeu que "fez uma reclamação genérica do que está acontecendo" e que se assusta com as penas, mas não disse quem ele considerava os "mais altos".>