Publicado em 5 de dezembro de 2023 às 14:21
A tecnologia de manejo de mínimo impacto de açaizais nativos passa a contar com uma solução digital para facilitar a sua aplicação. Em parceria com a empresa Equilibrium Web, a Embrapa Amazônia Oriental disponibiliza ao setor produtivo o aplicativo Manejatech-açaí. A ferramenta pode ser baixada de forma gratuita e funciona em sistemas Android para celular ou tablet, mesmo sem acesso à internet.>
O manejo de mínimo impacto de açaizais nativos, ou sustentável, é uma tecnologia desenvolvida pela Embrapa para conciliar a produção de frutos e a conservação das florestas de várzea do estuário (ambiente aquático de transição entre o rio e o mar) amazônico. Nesse ambiente, a palmeira do açaizeiro ocorre naturalmente e seus frutos tradicionalmente compõem uma parte importante da alimentação das populações ribeirinhas.>
A primeira etapa do trabalho é a demarcação de uma parcela na floresta para delimitar a área de manejo e o registro de todas as plantas, chamada de inventário. Com o aplicativo Manejatech-açaí, essa etapa é facilitada. Em vez de prancheta e caneta, o manejador indica no aplicativo as plantas presentes na área a partir de uma lista de espécies identificadas pelo nome comum.>
Na etapa seguinte, o aplicativo calcula a intervenção que deve ser feita, considerando os parâmetros do manejo de mínimo impacto. Em uma mesma área, deve haver uma proporção adequada entre touceiras de açaizeiro (o conjunto de caules que formam a palmeira) e outras espécies florestais. 'Para cada hectare, recomendamos 400 açaizeiros bem distribuídos com 250 indivíduos de outras espécies', afirma o engenheiro florestal José Leite, da Embrapa.>
Caso haja excesso de touceiras ou demais espécies, o aplicativo aponta as quantidades que devem ser suprimidas para atingir a proporção adequada. A tecnologia recomenda a quantidade, mas a escolha de quais árvores ou palmeiras de açaí devem ser derrubadas fica a critério da comunidade. Há, no entanto, uma regra fundamental: nenhuma espécie deve ser totalmente suprimida da área de manejo. 'Se houver apenas um pé de macacaúba, ele não deve ser derrubado. A escolha deve ser sobre aquelas espécies que tenham mais de um indivíduo na área manejada', exemplifica Leite.>
Caso o inventário na área de manejo indique um número de espécies arbóreas abaixo de 250 indivíduos por hectare, o manejador deve deixar ocorrer a regeneração natural da floresta até alcançar a proporção recomendada ou plantar espécies arbóreas. 'Em geral, o ambiente de floresta de várzea tem uma grande capacidade de recuperação natural', avalia Leite.>
Dessa forma, o manejo de mínimo impacto nos açaizais nativos preserva a biodiversidade e aumenta a produtividade, pois a palmeira se beneficia da interação com as outras espécies florestais. Outro fator que contribui para a elevação da produtividade nos açaizais manejados é a maior entrada de luz, resultado da redução do adensamento. A recomendação é que as touceiras mantenham uma distância de cinco metros entre si. Com esse espaçamento, evita-se que as palmeiras ganhem altura rapidamente como consequência da competição por luz. 'Assim a produção dos primeiros cachos ocorre numa altura baixa e oferece mais segurança para a coleta e menos esforço físico', observa o analista.>
O uso do aplicativo pelos ribeirinhos também possibilitará a geração de informações sobre a biodiversidade das áreas manejadas. 'Ao registrar as espécies presentes em cada parcela, durante a etapa de inventário, o usuário vai ter conhecimento sobre diversidade de plantas. Trata-se de uma informação preciosa, que poderá apoiar o acesso a novos mercados e a políticas públicas', prevê Costa.>
O software passou por etapas de validação junto aos usuários e incorporou novas funcionalidades de acordo com as demandas dos manejadores. Uma delas foi a sugestão de que a ferramenta também servisse para registrar a produção e a comercialização de frutos. 'O aplicativo alia tecnologia de ponta à expertise da Embrapa no segmento agropecuário', afirma Sebastião Farias Jr., CEO da Equilibrium Web.>
No processo de avaliação e validação do aplicativo, o trabalho contou com o apoio do projeto Bem Diverso - Sustenta e Inova. Em sua segunda fase, a iniciativa desenvolve desde 2016 ações de transferência de tecnologia em manejo de açaizais nativos no arquipélago do Marajó, em parceria com a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater-PA) e prefeituras. O projeto é financiado pela União Europeia, coordenado pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e executado pela Embrapa, em parceria com o Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (Cirad), Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) e a Fundação Arthur Bernardes (Funarbe). >
Com informações da Embrapa.>